Porto e Évora com bons exemplos de transição energética
Projectos nas duas cidades de combate à pobreza energética e gestão de redes eléctricas mereceram destaque em relatório internacional.
A Câmara do Porto é um dos maiores senhorios do país. Na cidade, 12% dos fogos são municipais, e a renovação do parque de habitação social, acompanhada, em parte, com a instalação, nalguns prédios, de painéis solares para aquecimento de águas sanitárias valeu ao município uma referência no primeiro relatório da organização internacional não-governamental REN21 sobre energias renováveis, ao nível europeu, pelo impacto da medida no combate à pobreza energética. A falta de recursos para climatizar, activa ou passivamente, uma casa, está associada, desde logo, a problemas de saúde e, na Europa, estima-se que 50 a 125 milhões de pessoas sofram com isso. Em Portugal não há números, mas sabemos, por exemplo, que em 2018, a gripe e as baixas temperaturas causaram cerca de 3700 mortes, das quais 397 atribuíveis ao frio.
Com um efeito social óbvio, a renovação do edificado municipal, na qual foram investidos mais de cem milhões de euros, em seis anos, é também uma daquelas medidas com efeitos óbvios na redução da factura energética da cidade, pela minimização do consumo de energia (eléctrica ou de outro tipo), associada ao aquecimento e arrefecimento da habitação. Entre isolamento das fachadas e melhorias nas coberturas e nas caixilharias, vários bairros municipais foram adequados às mais recentes normas de edificação, e em pelo menos seis aglomerados, este esforço foi acompanhado com a instalação de painéis, permitindo poupanças na ordem dos 60% dos custos com o aquecimento de águas a uma população que dificilmente teria meios próprios para custear esta opção.
O próximo passo do Porto é o incremento da produção de energia a partir de painéis fotovoltaicos. Segundo o vice-presidente da Câmara e vereador com o pelouro do ambiente e da inovação, está por dias o lançamento do concurso para a instalação, em 30 edifícios, de equipamentos suficientes para a produção de um MW de electricidade, naquilo que, para o autarca, será apenas “o pontapé de partida” para uma estratégia mais ampla, que visa aproveitar o potencial solar dos milhares de metros quadrados de telhados do edificado gerido pela autarquia e o novo enquadramento legal que abre portas à criação das comunidades energéticas. E, tendo em conta este novo papel de produtor de electricidade, o município liderado por Rui Moreira está já ponderar colocar nas mãos de uma das suas empresas municipais a tarefa de gestão da futura rede local.
A uma escala muito diferente, mas nem por isso menos inovadora, Évora tem sido notícia, desde 2010, pelo envolvimento do concelho em projectos inovadores na área da produção e gestão de energia e merece também, por isso, destaque, como exemplo a seguir, neste relatório inaugural da REN21. O vereador Alexandre Varela explicou ao PÚBLICO que a parceria entre várias entidades, lideradas pela EDP, permitiu, no âmbito do programa InovCity, lançar, no início da década, o InovGrid, que pôs ao alcance dos consumidores instrumentos de monitorização dos seus consumos energéticos e, nalguns casos, incentivou a instalação de painéis fotovoltaicos.
Conjuntamente com Alkmaar, na Holanda, Évora é cidade-piloto para um novo projecto nesta área. O PoCityf, financiado pelo programa Horizonte 2020 e levado a cabo por um consórcio de 46 instituições de 143 países, entre elas o INESC-Tec, do Porto, e visa criar bairros com um balanço de produção de electricidade positivo, ou seja, superior àquela que, internamente, é consumida, permitindo alimentar outras necessidades na vizinhança, como por exemplo a mobilidade eléctrica. E com apoios do Fundo Ambiental, neste momento foi já criado também o consórcio de parceiros que vai permitir iniciar na cidade o trabalho do Laboratório para a Descarbonização, que, em Évora, terá como objectivo principal a transferência de toda a logística de abastecimento, no interior da muralha, para modos mais sustentáveis.