Foram 19 horas e 19 minutos de voo, quase 18 mil quilómetros percorridos e cem toneladas de combustível de aviação. Os passageiros, esses, tiveram a oportunidade de assistir a dois nasceres do sol.
O voo da companhia aérea australiana Qantas descolou do aeroporto de Heathrow com destino a Sydney, na quinta-feira, às 6h09 de Londres com 50 passageiros a bordo. Era já sexta-feira, 17.800 quilómetros depois, quando aterrou na Austrália às 12h28 locais (01h28 em Lisboa). Este foi o teste para aquele que será o mais longo voo comercial regular da história da aviação, sem escalas. E tem outro valor histórico: é apenas o segundo voo directo desta rota e acontece três décadas depois depois do primeiro, quando, em 1989, um Boeing 747-400 levou 23 passageiros entre as cidades australiana e britânica durante 20 horas e 9 minutos.
Desta feita, a aeronave usada no trajecto foi um Boeing 787-9 Dreamliner, chamado Longreach (Longo alcance). Embora tenha capacidade para 300 passageiros, neste voo participaram apenas 50 pessoas — incluindo quatro pilotos, entre os quais a comandante Helen Trenerry.
Além de funcionários da Qantas, que celebra 99 anos a 16 de Novembro e aproveitou para lançar o programa do centenário (bem a propósito o avião ostentava o “100” pintado), voaram passageiros habituais da companhia, sendo que não foram vendidos bilhetes, cujos padrões de sono, movimentos, alimentação e uso de entretenimento a bordo foram monitorizados. Os dados foram reunidos por investigadores do Centro Charles Perkins, uma unidade de investigação médica da Universidade de Sydney, que analisarão depois como os voos de longo curso directos afectam a saúde e bem-estar dos passageiros.
Uma equipa da Universidade Monash de Melbourne monitorizou também os níveis de melatonina (a hormona que influencia os padrões de sono) dos pilotos e tripulação antes, durante e depois do voo.
O objectivo, explicou o CEO da Qantas, Alan Joyce, é mostrar ao regulador de aviação que é possível realizar estas viagens de forma segura e conseguir autorização das autoridades australianas para operar estes voos.
Quanto ao maior desafio, a comandante Helen Trenerry sublinhou, na véspera do voo, que seria fazer a travessia através de rotas que não são frequentemente usadas pela companhia aérea e voar por “espaço aéreo desconhecido, com as dificuldades linguísticas que isso acarreta”.
O chamado “Project Sunrise” da Qantas, no qual se insere esta viagem, pretende introduzir voos de longo curso directos regulares entre Sydney e Londres e Sydney e Nova Iorque até 2022. Para tal, a companhia aérea planeou três viagens experimentais, sendo esta a segunda. Em Outubro, levantou voo o primeiro avião, partindo de Nova Iorque e com destino a Sydney (que repetirá em Dezembro), tendo demorado 19 horas e 16 minutos a percorrer os cerca de 16 mil quilómetros. Praticamente o mesmo tempo que o voo agora realizado, apesar da distância ser 1500km superior (os ventos ajudaram). A viagem repetir-se-á em Dezembro.
A companhia voou pela primeira vez entre Londres e Sydney em 1947. A viagem demorava cinco dias com seis escalas. Hoje em dia, e desde 2018, voa regularmente entre Perth e Londres: o voo dura 17 horas.