Ascensão do Vox, queda do Cidadãos e o “voto útil” à direita
A média das sondagens dá a vitória aos socialistas, mas abre a possibilidade de uma vitória do bloco da direita com o Vox a poder transformar-se na terceira maior força política espanhola.
Pedro Sánchez garantiu esta semana que o Vox “foi uma invenção” do ex-primeiro-ministro José María Aznar para desestabilizar o seu sucessor à frente do Partido Popular, Mariano Rajoy, e que agora a criação “lhe escapou das mãos”, ganhou autonomia e pode vir a transformar-se na terceira maior força política espanhola nas eleições deste domingo.
Sete dos dez fundadores do Vox estão relacionados com Aznar, desde logo o líder do partido de extrema-direita, Santiago Abascal, delfim do antigo primeiro-ministro. Dos outros, quatro deles já abandonaram, entretanto, o partido, sinal de que a formação política, surgida publicamente em Janeiro de 2014, poderá ter tido um papel instrumental e não ideológico para esses fundadores relacionados com o antigo líder do PP.
O certo é que o partido de Abascal vem abocanhando rapidamente o espaço no espectro extremo da direita, galopando com esmero a questão catalã e golpeando com sanha o independentismo. E pode sair destas eleições como a terceira maior força política espanhola, com uma bancada que pode chegar aos 50 deputados.
A euforia Vox contrasta com a depressão Cidadãos e tudo indica que o 10 de Novembro (o 10N, como os espanhóis se costumam referir às datas relevantes) marcará o fim da liderança de Albert Rivera (a sua actuação no debate televisivo a cinco, em que voltou a tirar muitos acessórios da cartola, não conseguiu convencer quase ninguém, numa convicção generalizada entre os analistas de que voltou a perder o embate).
Se se pregar o último prego no seu caixão político, Rivera, o rosto da direita moderna, jovem, urbana e liberal transforma-se num Ícaro da política espanhola, que pensou ter asas para substituir o PP como grande partido da direita e acabou com a cera derretida pelos holofotes da realidade. E tudo no espaço de seis meses e meio, que é o tempo que dista entre as eleições de 28 de Abril e o regresso às urnas deste domingo.
O El País compilou todas as sondagens publicadas em Espanha e extraiu a média: se a vitória dos socialistas é garantida, a possibilidade de o bloco de direita superar a soma do PSOE com o Unidas Podemos surge como hipótese plausível. E com isso os espanhóis arriscam-se a acordar na segunda-feira com um impasse tão grande ou maior que o saído das eleições do 28A.
Pablo Casado passou a campanha a falar ao coração dos eleitores de direita, a pedir a alguns que regressem ao redil do PP para poderem derrotar o PSOE e superar o impasse, apelando ao “voto útil”, não se coibindo sequer da metáfora futebolística: “Esta é como uma final de futebol, só há duas equipas: ou ganha o PSOE ou ganha o PP. Qualquer outra equipa poderá entrar espontaneamente em campo, mas não marcar golos, ou se os marcar será na própria baliza.”
Casado, o moribundo do 28A, a quem pediram a demissão e a quem vaticinaram que não passaria das europeias, deixou crescer a barba e fez uma campanha de captação do voto da direita, para derrotar Sánchez e poder formar um governo de coligação com Cidadãos e Vox: “Estamos num referendo sobre a continuidade de Pedro Sánchez. Peço o voto dos eleitores do Cidadãos e do Vox para que no apoio ao PP o derrotemos. O voto do PP vale o dobro, porque se vota num Governo do PP e se expulsa Sánchez de La Moncloa. Tudo o resto serão votos que ajudarão Sánchez a seguir no Governo”, disse num comício.
Nos últimos dias da campanha, PP, Cidadãos e Vox, desde a sua coligação na Assembleia de Madrid, aprovaram uma proposta para ilegalizar os partidos separatistas que atentem contra a unidade de Espanha, num claro sinal de que há uma sintonia à direita dos vários partidos e que permitiu a Sánchez voltar à ideia de que “a extrema-direita” está a levar os outros dois partidos da direita para “uma deriva reaccionária muito perigosa”.