A indústria vai na moda?

A indústria fitofarmacêutica não deve temer o seu ADN químico, antes pelo contrário, deve ter orgulho na sua génese e confiança na sua competência. A indústria tem de saber resistir à tentação de querer estar na moda, de querer afirmar-se como defensora do “natural”, de querer ser percepcionada como aquilo que nunca foi.

Desde que o Homem se tornou agricultor que cedo se deparou com a situação de ver as suas plantas e respectivas culturas serem atacadas por pragas, doenças e invadidas por outras plantas indesejadas que com ela concorriam pelo mesmo solo e pela mesma água. Com a natural inteligência da sua espécie foi encontrando algumas formas de minimizar os problemas. À medida que a agricultura se foi desenvolvendo e ocupando maior superfície, a fitossanidade passou a ser uma ciência fundamental. Com base neste conhecimento científico, foram crescendo a investigação e o desenvolvimento de novas soluções, muitas vezes para velhos problemas. Assim nasceu e avançou a indústria fitofarmacêutica que, através de uma química mais específica e dirigida, foi encontrando alternativas aos velhos cobre e enxofre.

Mas esta indústria não se ficou só pela química. Desenvolveu outras ferramentas, como métodos auxiliares de diagnóstico (armadilhas), métodos biotécnicos (confusão sexual), substâncias de origem natural (piretrinas) e também biológicos (predadores, parasitas, parasitoides).

Por isso, e embora haja a percepção oposta, a indústria não é (nem podia ser) contra a agricultura biológica. Antes, não defende que seja este o método produtivo sustentável capaz de satisfazer as necessidades de uma população crescente, pelo menos com a Terra que temos. É que, como já se disse e bem, não há planeta B.

Contudo, há muito quem pense o contrário. Que o natural é que é bom e, por oposição, o que é químico é mau. Nada mais errado, até porque tudo o que nos rodeia é químico e os cogumelos, que são todos naturais, também são todos “comestíveis”, só que alguns só o são uma vez.

O que é químico de síntese e colocado no mercado, quer seja para a saúde das plantas, quer para a nossa ou dos outros animais, é largamente estudado e escrutinado para que o seu uso seja com o menor risco possível.

Por isso, a indústria não deve temer o seu ADN químico, antes pelo contrário, deve ter orgulho na sua génese e confiança na sua competência. A indústria tem de saber resistir à tentação de querer estar na moda, de querer afirmar-se como defensora do “natural”, de querer ser percepcionada como aquilo que nunca foi.

No entanto, começam a notar-se alguns “tiques” de comunicação preocupantes por parte de alguns sectores da indústria fitofarmacêutica. Um tom que parece querer encetar um virar de página. É algo que não faz realmente sentido, até porque desde sempre essa mesma indústria soube descobrir, desenvolver e integrar todas as ferramentas necessárias à protecção das plantas, assumindo frontalmente o químico como tão seguro como o “natural” e deve continuar a evoluir com o conhecimento científico.

Um exemplo paradigmático deste tipo de comunicação é o facto de algumas empresas irem atrás do que agora se chama “resíduo zero”. Esta terminologia chega mesmo a fazer parte da sua comunicação, como sendo um seu objectivo estratégico. Nada mais falacioso e contraditório. Falacioso porque o “resíduo zero” não existe (o que existe é um resíduo não detectável); contraditório porque não compatível com a noção de LMR (Limite Máximo de Resíduo). Um alimento com um resíduo abaixo do LMR não é menos saudável do que seria se se apresentasse com resíduo não detectável.

Ao encetar por esse caminho, a indústria não só pode estar a dar razão a quem não a tem como, ainda mais sério, a indústria pode estar a fazer o seu próprio harakiri.

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