Depois do sucesso em Espanha, Honest Greens apostam em Lisboa
Ementas ditadas pela estação, produtos não processados, muitas verduras. Os adeptos do “paleo” ou do veganismo podem vir a gostar dos restaurantes que fazem furor em Madrid e que se preparam para abrir em Portugal.
Os restaurantes Honest Greens, que são dos mais badalados nos últimos meses em Madrid, estão de malas feitas para Lisboa. Na capital espanhola, o grupo serve diariamente mais de 3500 refeições a pessoas que se preocupam com o que comem. Adeptos da dieta “paleo” (assente em carnes magras, frutas, verduras, frutos secos e sementes), os vegetarianos, os veganos e aqueles que fogem a sete pés do glúten podem esperar a abertura de quatro restaurantes do género em Lisboa e, mais tarde, um no Porto. As datas ainda estão no segredo dos deuses, mas um dos fundadores confirmou à Fugas que a expansão internacional desta cadeia vai começar pela capital portuguesa com uma mão cheia de apostas.
A receita que está a levar mais vegetais à boca de Madrid (quatro restaurantes) e Barcelona (um restaurante) resume-se em três palavras: bom, bonito e acessível. Nisso, o conceito desenvolvido após uma espécie de volta ao mundo segue as pisadas do fast food (a rapidez do serviço, a flexibilidade na ementa, o preço em conta), mas depois continua na direcção oposta, excluindo todo e qualquer ingrediente ou comida que seja processado, confeccionando pratos de aspecto sempre fresco e colorido à vista de toda a gente, em cozinhas abertas.
Será o fast food transformado em fast good? O chef Benjamin Bensoussan, que desenvolveu o conceito com dois sócios Christopher Fuchs e Rasmus B. (antigos clientes dele noutros restaurantes por onde passou e que o desafiaram a trocar a vida de chef por conta de outrem pela de empresário e empreendedor gastronómico), diz que “a alimentação actual é uma doença”, mas recusa a ideia de que o Honest Greens seja o remédio. “Não contamos calorias, não somos uma farmácia, não vamos curar nada”, avisa. “O que procuramos servir é um produto de qualidade, cozinhado todos os dias e com uma certa transparência”, resume.
Quatro locais em Lisboa
Para Lisboa estão previstas quatro localizações, incluindo Parque das Nações, Amoreiras e Chiado, revela Benjamin. A primeira abertura (no Parque das Nações) estava prevista para finais de Outubro. Porém, tudo acabou adiado para Dezembro, segundo uma mensagem divulgada entretanto no Facebook da Honest Greens Portugal. O Porto também está nos planos do grupo, mas mais tarde.
Na expansão portuguesa, o grupo Urban Gourmet faz parceria com o grupo luso Multifood, dono de um império gastronómico com mais de dez marcas de restauração e 145 restaurantes. O portefólio inclui a cadeia Vitaminas (que também aposta na comida saudável mas com presença em centros comerciais, ao contrário do Honest Greens), restaurantes como Alma, o Pesca, o Tapisco, a Sala de Corte, o Delidelux, o Tavares Rico ou a Pizzeria ZeroZero. Tudo somado, a Multifood factura por ano 77 milhões de euros. “É o parceiro ideal para esta internacionalização, que não estava nos nossos planos iniciais tão cedo”, diz Benjamin. Rui Sanches, fundador da Multifood, que apresenta, precisamente nesta quinta-feira, o rebranding do grupo, ignorou as muitas tentativas de contacto feitas pela Fugas desde Junho. Mas os detalhes essenciais foram confirmados em Espanha, com a mesma transparência com que ali desenham as ementas.
A carta muda duas vezes por ano (Primavera/Verão e Outono/Inverno), mas pode ser actualizada numa base diária ou semanal porque depende de produtos frescos da época. “Deixa que a estação decida o que há no teu menu”, lê-se no jornal promocional que o grupo faz circular nos seus restaurantes em Espanha.
Sem refinados ou processados
Levar mais vegetais e legumes à boca das pessoas é algo que este grupo encara quase como uma missão, mas a ementa também tem proteínas animais, como frango do campo marinado com Chipotle, vitela de pasto, tataki de atum branco ou pernil/pá de porco em lume brando.
O que distingue esta carta, segundo Benjamin, é a recusa total de ingredientes processados. E isso é verdade até na sobremesa: o caramelo salgado de tahini, o crumble de amêndoas com maçã assada e a tarte crua de chocolate preto e branco são algumas das opções disponíveis e todas elas excluem açúcares refinados.
Oitenta e cinco por cento dos ingredientes são de produção local, garante o chef Benjamin, e isso é outro dos genes da Honest Greens. No abastecimento, o grupo “prefere produtores locais e agricultura sustentável aos fornecedores industriais” e faz um apelo à criatividade dos próprios clientes, a quem deixa caminho aberto para construir, por assim dizer, o próprio prato.
Prato ou taça?
A escolha da comida, por seu lado, assenta em três etapas. Primeiro opta-se entre market plate e garden bowl. O primeiro é um prato com salada de espinafres com vinagreta de manjericão e limão e pão de sementes (que pode ser trocado por uma dose extra de verduras) ao qual se junta uma das proteínas animais ou vegetais disponíveis. A segunda opção é uma de sete taças “verdes”, com ingredientes distintos, do abacate à quinoa, passando pelo queijo de cabra ou arroz integral. Tanto o prato como a taça custam 6,90 euros e aquelas que experimentámos em dois dos restaurantes madrilenos traziam doses generosas.
Quem tiver estômago para mais pode ainda adicionar, no caso dos pratos, um molho vegano (ketchup de beterraba por exemplo), por 0,95 euros, e uma guarnição de legumes (2,50 euros a unidade). No caso das taças, pode-se adicionar uma proteína animal ou vegetal, em tamanho S (80 gramas, por mais 3 euros) ou L (150 gramas por 4,50 euros).
Contas feitas, o preço pode ir dos 6,90 euros aos 12,45 euros, por doses suficientemente grandes para serem partilhadas por duas pessoas. Mesmo assim, o menu inclui opções específicas para partilhar (entre 4,50 e 5,50 euros), como melancia na brasa ou hummus da época.
Nas bebidas, as opções são bar de sumos naturais (2,50 euros e reabastecimento livre), bar de águas (com ou sem gás) ou sumos engarrafados.
Os Honest Greens espanhóis têm ainda menu próprio de pequeno-almoço, que é servido até às 12h e com opções igualmente à margem dos produtos açucarados e processados que encontramos nas habituais pastelarias e cafetarias citadinas.
“Estamos a fazer uma revolução, porque escolher uma alimentação mais consciente é uma verdadeira luta”, resume Benjamin Bensoussan. A luta continua, dentro em breve nas ruas de Lisboa.