Harry defende Meghan e lembra a mãe: “O meu maior receio é que a história se repita”

Meghan Markle diz-se vítima de bullying dos tablóides britânicos e avançou com queixa. Harry teme que “a história se repita”, numa alusão ao que aconteceu com a princesa Diana.

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"Consideramos [a imprensa] uma pedra angular da democracia", disse Harry em nome do casal Reuters

A duquesa de Sussex anunciou a sua decisão de processar o grupo editorial responsável pelo britânico The Mail on Sunday, depois de terem sido publicados trechos de uma carta redigida por si e dirigida ao seu pai. Naquele que alguns especialistas já consideraram poder tornar-se no “caso de invasão de privacidade do século”. Recentemente o processo apresentado por sir Cliff Richards teve como desfecho, no mês passado, o pagamento de 2,2 milhões de euros por parte da BBC ao cantor, depois da cadeia televisiva ter transmitido imagens em directo de uma rusga policial na casa do artista, relacionada com uma acusação de abuso sexual, em 1985, a um menor, que nunca foi provada.

Agora, Meghan avança com uma queixa contra a DMG Media (antiga Associated Newspapers) por uso indevido de informações privadas, violação de direitos de autor e violação da Lei de Protecção de Dados de 2018. Os duques informaram que o pagamento do processo será feito pelos próprios e que quaisquer valores resultantes de um veredicto virão a ser doados a uma instituição antibullying. Uma decisão que vai ao encontro das acusações que Harry desenvolve num longo comunicado entretanto divulgado: “Chega a um ponto em que a única coisa a fazer é enfrentar esse comportamento, porque destrói as pessoas e destrói vidas. Simplificando, é bullying, que assusta e silencia as pessoas. Todos sabemos que isso não é aceitável, a nenhum nível.”

Na mesma nota, o duque de Sussex enfatiza o facto de o casal acreditar “na liberdade de imprensa e em relatos objectivos e verdadeiros”. “Consideramos [a imprensa] uma pedra angular da democracia e, no estado actual do mundo — a todos os níveis — nunca precisámos tanto como agora de meios de comunicação responsáveis.”

Uma perseguição sem tréguas

A gota de água, que deu origem à queixa actual, terá sido a publicação de imagens de uma carta manuscrita pela duquesa de Sussex, que dirigia ao pai, com o qual não mantém ligação. Porém, as razões não são apenas as mais recentes. Segundo o próprio Harry, a “campanha anti-Meghan” começou há mais de um ano. O príncipe escreveu no mesmo comunicado: “Infelizmente, a minha mulher tornou-se uma das mais recentes vítimas de um tablóide britânico que faz campanhas contra indivíduos sem pensar nas consequências — uma campanha implacável que escalou ao longo do ano passado, durante a sua gravidez e enquanto cuida do nosso filho recém-nascido.”

O texto de Harry descreve ainda como a imprensa “conseguiu criar mentiras atrás de mentiras (…) apenas porque [Meghan] não apareceu publicamente durante a licença de maternidade”. 

O jornal Mail on Sunday já informou que irá defender-se “vigorosamente” das acusações dos duques, recusando a ideia de que edição da carta alterava o seu conteúdo.

O fantasma do caso Diana

Harry nunca foi muito expressivo sobre o que aconteceu com a sua mãe, a princesa Diana (1961-1997), morta na sequência de um acidente de viação, enquanto o carro onde seguia era perseguido por vários paparazzi. Apenas há dois anos, o príncipe falou sobre o caso, numa entrevista ao The Telegraph, durante a qual confessou ter bloqueado todas as suas emoções durante quase duas décadas e que, quando por fim aceitou o luto, esteve várias vezes “à beira de um esgotamento”.

Agora, no mesmo documento em que explica as razões que levaram Meghan a avançar com um processo judicial contra a Associated Newspapers, o duque volta ao assunto, assumindo que o seu “maior receio é que a história se repita”.

“Eu vi o que acontece quando alguém que eu amo é catalogado ao ponto de deixar de ser tratado ou visto como uma pessoa real. Perdi a minha mãe e agora vejo a minha mulher a ser vítima das mesmas forças poderosas.”

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A princesa Diana com Harry ao colo quando este tinha três anos Reuters

Na época, a morte da princesa Diana deu origem a um debate mundial sobre o comportamento da imprensa sensacionalista e, especificamente, dos paparazzi, colocando várias personalidades, quadrantes e responsáveis de órgãos de comunicação social a analisar onde se traçaria a linha entre o direito à informação e o direito à privacidade.

O desfecho do caso que vitimou Lady Di e o seu companheiro, o egípcio Dodi Al-Fayed, chegou em Abril de 2008, com o júri responsável pelo inquérito a concluir que o acidente foi provocado pela conduta negligente de ambos os condutores dos veículos envolvidos: o Mercedes onde seguia o casal e o Fiat Uno dos paparazzi. No ano anterior, já tinha sido afastada a teoria de que o acidente seria resultado de uma conspiração com origem no Palácio de Buckingham, apresentada pelo pai de Dodi Al-Fayed, Mohamed Al Fayed. “Não há provas de que o duque de Edimburgo, marido da rainha Isabel II, tenha ordenado a morte de Diana e não há provas de que os serviços secretos ou qualquer outro órgão do Governo a tenham programado”, declarou o juiz, citado pela Reuters, antes de iniciar a leitura do resumo do inquérito, aberto a 2 de Outubro de 2007, no Tribunal de Londres.

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