Cientistas norte-americanos criam gel que previne a propagação de incêndios
Aplicado em áreas propensas a ignições, o gel consegue impedir a propagação de incêndios e é mais barato que outros retardadores. O material feito à base de celulose contém materiais não tóxicos e que são amplamente utilizados em alimentos, medicamentos, cosméticos e produtos agrícolas.
Uma equipa de investigadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos da América, desenvolveu uma espécie de gel inofensivo para o meio ambiente que previne incêndios florestais. O tratamento preventivo é descrito esta segunda-feira na revista científica Proceedings of National Academy of Sciences e trata-se de um fluido que ajuda a retardar os incêndios comuns das florestas.
Aplicado em áreas propensas a ignições, o material consegue impedir a propagação de incêndios, mesmo em condições climáticas em que os retardadores convencionais não fazem efeito. Além de mais eficaz, segundo os investigadores, o produto também é mais barato. O gel à base de celulose desenvolvido pela equipa contém materiais não tóxicos e que são amplamente utilizados em alimentos, medicamentos, cosméticos e produtos agrícolas.
O gel pode ser aplicado usando equipamento de pulverização normal ou a partir de aeronaves. “Isto tem o potencial de tornar o combate aos incêndios florestais muito mais proactivos do que reactivos”, explica Eric Appel, um dos principais autores da investigação, professor assistente de Ciência e Engenharia dos Materiais, citado no comunicado da Universidade que relata a descoberta.
Actualmente, explicou, o que se faz em termos de combate de incêndio é monitorizar zonas propensas a incêndios e quando estes deflagram nesses locais “ir a correr apagá-los”. No entanto, as alterações climáticas e o aquecimento global estão a tornar o clima mais quente e seco, intensificando o poder destrutivo dos incêndios e prolongando a temporada mais crítica. Nos últimos dois anos aconteceram quatro dos 20 maiores incêndios de sempre e oito dos 20 mais destrutivos na história da Califórnia, nos Estados Unidos.
Em Portugal, nos últimos dois anos também aconteceram dos piores incêndios, com dois momentos de grandes fogos a provocarem mais de uma centena de mortes. Os investigadores notam que os retardantes comerciais mais utilizados usam fosfato de amónio como componente activo, mas que só é eficaz durante um curto período de tempo. A tecnologia agora desenvolvida permanece na vegetação mesmo com vento e chuva.
“Podemos colocar 20 mil galões (cerca de 76 mil litros) do gel numa área, como prevenção, ou um milhão de galões (3,7 milhões de litros) da fórmula tradicional após o início do incêndio”, diz o autor principal do estudo, Anthony Yu, citado no comunicado da instituição.
Os investigadores trabalharam com o Departamento de Silvicultura e Protecção contra Incêndios da Califórnia para fazer testes e concluíram que o gel é totalmente eficaz mesmo depois de chuva intensa. Nas mesmas condições um retardador das chamas já não é eficaz. A equipa está agora a trabalhar com o Departamento de Transportes da Califórnia para testar o material em áreas de grande risco perto das estradas.