Governo brasileiro pressiona festival uruguaio a não exibir filme sobre Chico Buarque
Documentário Chico: Artista Brasileiro estava na lista de filmes do Festival de Cine de Brasil em Montevideu, mas a embaixada brasileira pediu que fosse retirado.
A embaixada brasileira em Montevideu pressionou os organizadores de um festival de cinema uruguaio a retirar da lista de filmes a exibir um documentário sobre Chico Buarque.
A notícia foi dada pelo jornalista Ancelmo Gois, no seu blogue no site d’O Globo, na sexta-feira, em que é reproduzido um email da produtora do Festival de Cine de Brasil dirigido ao realizador do documentário Chico: Artista Brasileiro, Miguel Faria Jr. A embaixada brasileira em Montevideu, que apoia o festival que se realiza em Outubro, pediu aos organizadores do evento para não exibirem o documentário de 2015.
“Se bem que é lógico, dada a situação política do Brasil, no Uruguai é muito grave que se censure a exibição de um filme”, lê-se no email dirigido ao realizador brasileiro.
Em Washington, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Ernesto Araújo, confirmou que a embaixada indicou quais os filmes que estaria disponível para apoiar. “Acho que o interesse da embaixada não estava nesse filme sobre o Chico Buarque”, afirmou o ministro, citado pelo O Globo. “Se você pede o apoio institucional da embaixada brasileira, é natural que a embaixada diga: eu quero dar apoio para esses que são determinados filmes a serem exibidos”, acrescentou Araújo.
Chico Buarque, galardoado com o Prémio Camões este ano, é um conhecido opositor do Governo de Jair Bolsonaro. Em Junho, numa entrevista ao Le Monde, o cantor, compositor e escritor disse haver no Brasil uma “cultura de ódio alimentada pelo Presidente”. O seu apoio ao Partido dos Trabalhadores (PT) valeu-lhe críticas e até um episódio em 2015 quando foi insultado à saída de um restaurante no Rio de Janeiro.
A classe artística brasileira, grande parte da qual próxima da esquerda, foi um dos alvos de Bolsonaro e dos seus apoiantes durante a campanha eleitoral. Uma das mensagens mais recorrentes divulgadas pela direita e extrema-direita é a de que os artistas brasileiros viveram às custas do dinheiro público durante os governos do PT, numa referência à Lei Rouanet, de incentivos para a produção cultural.
No entanto, levantamentos feitos pela imprensa mostram que os maiores beneficiários desta lei são as produtoras e instituições culturais, como a T4F (organizadora do festival Lollapalooza), ou o Instituto Itaú Cultural.