Di Maio faz ultimato a Conte: ou governa com programa do M5S ou Itália terá de ir a votos
O líder do Movimento 5 Estrelas fez uma jogada de última hora ao apresentar um ultimato com 20 pontos programáticos para a formação do novo Governo. Se não forem aceites, haverá eleições, diz Di Maio. PD respondeu que chantagem é “inaceitável”.
Em mais uma reviravolta na política italiana, o líder do Movimento 5 Estrelas (M5S), Luigi Di Maio, impôs ao primeiro-ministro demissionário, Giuseppe Conte, um ultimato para a formação anti-sistema apoiar o seu novo Governo. Caso as suas condições não sejam aceites, os italianos devem às urnas escolher a composição do próximo Parlamento, diz Di Maio.
“Se os nossos pontos forem incluídos no programa de Governo estamos prontos, caso contrário o melhor é ir a votos”, disse esta sexta-feira Di Maio, depois de se encontrar com Conte e lhe ter entregado um manifesto com 20 pontos. Pouco antes, Conte e Nicola Zingaretti, líder do Partido Democrático, com quem o M5S negociou uma nova coligação de governo, tinham-se reunido e o segundo pediu-lhe que a “revitalização dos investimentos públicos e incentivo aos privados” fosse uma prioridade.
O Presidente italiano convidou, na quinta-feira, Conte a formar um novo governo com o apoio do PD e M5S, evitando assim eleições antecipadas que, indicam as sondagens, dariam maioria a Matteo Salvini, o líder do partido de extrema-direita Liga, e até agora ministro do Interior. Se este se coligasse com o Irmãos de Itália e Força Itália, do antigo primeiro-ministro e hoje eurodeputado Silvio Berlusconi, alcançaria a maioria absoluta. Pensava-se que seria o primeiro passo para se ultrapassar uma crise fomentada por Salvini.
Nicola Zingaretti não gostou do que ouviu de Di Maio e foi célere na resposta: “Chega de ultimatos inaceitáveis, ou não se vai a lado nenhum”. “Estamos a trabalhar seriamente para dar um novo Governo a Itália, para uma mudança europeia, social e verde”, escreveu no Twitter.
No manifesto encontram-se posições políticas e medidas há muito defendidas pelo M5S, como a diminuição do número de eleitos no Parlamento e Senado, reforma bancária, uma economia verde, um plano de investimento estratégico para o Sul de Itália, prisão para os crimes de grande evasão fiscail, crime organizado e tráfico ilícito, entre outras. A apresentação do documento pode ser encarada como resposta às críticas de o partido anti-sistema ter abdicado do seu programa político para se coligar com o PD.
Entretanto, as duas forças políticas começaram a atacar-se publicamente. “Luigi Di Maio reiterou mais uma vez que no Movimento 5 Estrelas os temas estão no centro da sua acção política”, reagiu o partido em comunicado, referindo não compreender o “espanto” do PD pela insistência do seu líder.
“Não compreendemos Di Maio. Deve tornar a sua posição clara nas próximas horas”, disse a vice-presidente do PD, Paola De Micheli, citada pela agência ANSA. “Pedimos que seja aceite o pedido do [Presidente] Mattarella”, reiterou, referindo-se ao apelo do chefe de Estado para que o novo executivo reverta as polémicas medidas anti-imigração do anterior Governo.
Pouco antes, Zingaretti, que deseja um Governo de “descontinuidade” com o anterior, reafirmou a intenção de rever os pontos na lei de segurança que levantam dúvidas constitucionais e de respeito pelos tratados internacionais de protecção dos direitos de migrantes e refugiados. Mas Di Maio defendeu “não fazer sentido” reverter a lei nem “renegar os 14 meses de Governo” com a Liga.
No anterior governo, Salvini ganhou enorme protagonismo ao fazer do combate à imigração o ponto chave da sua governação: proibiu que navios humanitários em acção no Mediterrâneo atracassem em portos italianos, criminalizou o resgate de refugiados e migrantes e aprovou uma lei de segurança que acabou com os vistos por razões humanitárias e criminalizou o estatuto de migrante, entre outras medidas.
“Isto significa que o imigrante já está a ser condenado por causa da sua condição e que já é considerado um perigo público, qualquer que seja o seu comportamento. É um mau sinal”, defendeu na altura o secretário-geral da conferência episcopal italiana, Nunzio Galantino, citado pela France24.
A crise política começou a 8 de Agosto quando Salvini apresentou uma moção de desconfiança contra o Governo do qual fazia parte. De férias, os deputados e senadores tiveram de regressar a Roma para lidar com a crise. Mas o líder de extrema-direita não viu o seu plano de antecipar eleições com a queda do Governo ser bem-sucedido. Em vez de eleições, PD e M5S aceitaram coligar-se com a pouca cola programática que os une, tudo para evitar a subida ao poder do líder da Liga.