Assunção Cristas: “Incomoda-me quererem colar o CDS a um partido que não tem nada a ver com o CDS”
Assunção Cristas esteve esta quinta-feira na Rádio Observador para uma entrevista matinal e insistiu na mensagem de que “Portugal tem a carga fiscal mais elevada” de sempre.
A líder do CDS, Assunção Cristas, reafirmou esta quinta-feira em entrevista à rádio Observador que a prioridade do partido é “baixar impostos” e rejeitou ter mudado de estratégia a seguir às europeias. Disse que o CDS pode não ficar à frente do PS ou do PSD, mas “continua a querer crescer” e reconheceu que o partido passou mal a mensagem, em Maio. “Isso é evidente.” A propósito do Chega, Cristas ainda atribuiu erradamente uma frase de André Ventura a Nuno Melo, sobre imigrantes, mas aproveitou para ser peremptória: "Incomoda-me quererem colar o CDS a um partido que não tem nada a ver com o CDS.”
Assunção Cristas quis mostrar que não deixou cair a ambição de ser primeira-ministra, apesar do desaire das europeias, mas não o disse directamente. Preferiu garantir que o CDS não mudou de discurso nem de objectivos. “Não mudei narrativa nenhuma. A estratégia do CDS continua a ser querer construir uma alternativa, o que se faz com 116 deputados. Queremos contribuir o mais possível para isso. Mantemos a ambição de sermos a primeira escolha um dia”, assumiu.
Sobre as europeias, a líder reconheceu que os “eleitores não perceberam as prioridades no CDS” e assumiu a responsabilidade por isso. "Os problemas nunca são dos eleitores, são de quem não consegue passar a mensagem”, disse. E acrescentou: “O resultado das europeias não é de Nuno Melo, é meu e é de todo o partido. Cada eleição é uma eleição: tive 21% nas autárquicas e 6% nas europeias”, registou.
E já que o problema das europeias foi a clareza da mensagem, agora, Cristas faz os possíveis por dizer ao que vem em todas as oportunidades: libertar os portugueses da maior carga fiscal de sempre, permitir que tenham o número de filhos que querem, ter cuidadores para os mais idosos, dar cuidados paliativos, rejeitar a eutanásia, apostar formação profissional, combater a corrupção, fazer uma gestão integrada do território, valorizar o mérito, liderar na economia azul... “O resto é ruído”, insistiu.
“É importante para nós baixar impostos, vai ser a nossa prioridade”, disse Assunção Cristas, porque Portugal tem maior carga fiscal de sempre. “Não é opinativo. É um facto.” Questionada sobre como manterá esse foco em cenário de crise, a centrista respondeu: “Em cenário de crise trataremos de fazer cortes na despesa para levar essa prioridade avante”. A seguir, ironizou: “Se vem aí uma crise, é melhor despacharmos já o Governo porque se há uma coisa que os socialistas não sabem fazer é resolver crises”.
Assunção Cristas falou ainda sobre André Ventura, repetindo que não entraria numa aliança em que estivesse o Chega, e lembrou que o CDS abandonou uma coligação com o PSD na Câmara de Loures porque o candidato número um seria André Ventura. “Afastámo-nos dessa coligação por causa de declarações que ele fez à época. Peço que as revisitem. Agora que saiu do PSD e não mudou as suas ideias, também não nos revemos nesse discurso”, afirmou. “Por exemplo, ele diz que 100 deputados bastam. Eu não acho. Incomoda-me quererem colar o CDS a um partido que não tem nada a ver com o CDS.”
Durante um exercício que o Observador explicou como sendo uma tentativa de mostrar que durante as europeias pode ter sido Nuno Melo a passar mal a mensagem do CDS (coisa que Cristas rejeitou), a líder centrista atribuiu ao eurodeputado do seu partido uma frase de André Ventura sobre migrações. Depois, explicou-se: “Temos e acolher as pessoas bem se tivermos uma política cuidadosa. O país precisa de imigrantes, como outros países precisam de portugueses. Somos um país de emigrantes e por isso temos de ter particular sensibilidade. Se não tivermos políticas cuidadosas, estaremos a acolher mal.”
Sobre o polémico despacho das casas de banho, a líder do CDS explicou que, na sua opinião, um adolescente que esteja a fazer a transição de género ou que já a tenha feito “pode ir à casa de banho em que se sente mais confortável”. A questão deve ser tratada com famílias, escolas e professores, “com um olhar de proximidade”.
“Critiquei a forma desumana como isso foi tratado. O CDS é um partido preocupado com as pessoas e respeita a identidade de todas as pessoas. O que choca e chocou o país foi haver um despacho de que não se percebia o alcance e que parecia abrir a porta a outras situações. Não é maneira de tratar um assunto destes. Não é esta a forma de olhar para uma questão tão delicada”, defendeu.
Assunção Cristas teve ainda tempo para dizer que, por si, Adolfo Mesquita Nunes podia ter ficado como vice-presidente do CDS, apesar de ter ido trabalhar para a Galp, e que conta com ele no seu núcleo duro. “Não é preciso cargos para as pessoas continuarem a ajudar. Ele viu problema em ter funções executivas. Eu não vi. Por mim, ele poderia continuar como vice-presidente”, assegurou, salientando as novas entradas para o partido: Raquel Abecasis, Sebastião Bugalho, Rui Lopes da Silva.
A líder do CDS não quis responder à pergunta sobre se voltará a recandidatar-se à liderança do CDS, caso tenha um resultado baixo em Outubro. “Estou na política por serviço. E quando se está assim, está-se enquanto faz sentido estar. Não vou gastar um segundo do meu pensamento a pensar no que vai acontecer depois de dia 6 de Outubro”, reagiu. “No dia em que eu deixar de fazer serviço político sei que vou dedicar-me à minha carreira académica. Tenho muitas saudades de estudar direito.”