Indústria de curtumes recua e desmente boicote de marcas ao couro brasileiro

Imprensa noticiou esta quarta-feira que pelo menos 18 marcas internacionais de roupa e calçado teriam suspendido compras de couro brasileiro em protesto contra queimadas na Amazónia.

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Os importadores de couro do Brasil afirmaram que vão continuar com os pedidos que já foram feitos, mas que gostariam de “esclarecimentos adicionais” sobre a origem e rastreabilidade dos produtos Regis Duvignau/Reuters

O Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), associação que representa produtores de couro do país, recuou e negou a informação veiculada esta quarta-feira de que marcas internacionais iriam suspender compras do couro devido às queimadas na Amazónia. “A carta foi divulgada [pelo próprio CICB] antes da verificação com a empresa importadora. (...) Esse importador estaria supostamente a suspender as compras. Foi um equívoco nosso. Vamos corrigir a informação junto do Governo federal”, disse o presidente executivo do CICB, Fernando Bello, ao portal de notícias Estadão.

A imprensa brasileira tinha noticiado esta quarta-feira uma carta enviada pelo CICB ao ministro do Meio Ambiente do Brasil, Ricardo Salles, que informava que pelo menos 18 marcas internacionais de roupa e calçado pediram a suspensão de compras de couro ao Brasil por causa das queimadas na Amazónia. Na carta, Fernando Bello disse que recebeu com muita preocupação o comunicado de suspensão de compras de couros.

“Este cancelamento foi justificado em função de notícias relacionando queimadas na região amazónica ao agro-negócio do país. Para uma nação que exporta mais de 80% de sua produção de couros, chegando a gerar dois mil milhões de dólares [1,8 mil milhões de euros] em vendas ao mercado externo num único ano, trata-se de uma informação devastadora”, escreveu o presidente do CICB.

Foram citadas na carta as marcas Timberland, Dickies, Kipling, Vans, Kodiak, Terra, Walls, Workrite, Eagle Creek, Eastpack, JanSport, The North Face, Napapijri, Bulwark, Altra, Icebreaker, Smartwoll e Horace Small. Porém, Fernando Bello recuou, declarando que se tratou de um erro de “pré-avaliação”.

“Recebemos este relato de uma indústria brasileira e, quando esclarecemos o facto com o cliente internacional, obtivemos a informação de que não haverá cancelamentos”, acrescentou o presidente do CICB. Bello disse ainda que não há intenção dos importadores boicotarem ou restringirem compras do produto brasileiro. 

Segundo o CICB, os importadores de couro do Brasil afirmaram que vão continuar com os pedidos que já foram feitos, mas que gostariam de “esclarecimentos adicionais” sobre a origem e rastreabilidade do produto. O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, comentou a situação e garantiu que as “exportações seguem normais”.

“Jornais publicaram que 18 marcas suspenderam a compra de couro brasileiro. Àqueles que torcem contra o país e que, vergonhosamente, divulgaram felizes a notícia, informo que o Centro de Indústria de Curtumes do Brasil negou tal suspensão. As exportações seguem normais”, escreveu Bolsonaro na rede social Facebook.

Os incêndios registados na Amazónia mobilizaram a opinião pública mundial sobre a aceleração da destruição do meio ambiente no Brasil, mas a venda de produtos de couro do Brasil não foi afectada, segundo a CICB. O número de incêndios no Brasil aumentou 83% este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até 19 de Agosto, sendo a Amazónia a região mais afectada. A Amazónia, a maior floresta tropical do mundo e com a maior biodiversidade registada numa área do planeta, tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).