Álbum da cimeira do G7 em Biarritz
Alguns dos destaques de dois dias de encontros e desencontros dos líderes das sete maiores potências ocidentais na cidade balnear francesa.
Trump-Boris: os amigos
As fotografias da reunião entre o Presidente dos Estados Unidos e o primeiro-ministro britânico estão cheias de sorrisos e Donald Trump afirmou mesmo que esteve “seis anos à espera” que Boris Johnson chegasse à liderança do Governo, alguém que considera “muito forte e muito inteligente”. E os dois afirmaram que no espaço de um ano depois do “Brexit” os dois países poderão ter um “grande acordo” bilateral de comércio, como referiu Johnson. A quem lhe perguntou como estavam a andar as negociações, Trump referiu que “muito depressa”. “Não antevemos problemas”, acrescentou. Um acordo comercial com Washington é visto pelos britânicos como fundamental para o Reino Unido no futuro pós-União Europeia, no entanto, isso não impediu Johnson de criticar a guerra comercial EUA-China promovida por Trump: “Não é esta a forma de agir. Além do resto, aqueles que apoiam as taxas alfandegárias correm o risco de serem acusados da desaceleração da economia, independentemente de ser ou não verdade”.
Irão: a surpresa
Emmanuel Macron escondeu até ao último momento a carta do Irão. Em vez de informar com antecedência os outros líderes do G7 sobre o convite que dirigira ao ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano para estar presente, só de véspera, quando já haviam todos chegado a Biarritiz, lhes transmitiu a mensagem que Mohammad Javad Zarif estaria presente. Trump disse que sabia, que Macron até lhe tinha pedido “autorização”, e admitiu que poderia encontrar-se com o seu homólogo iraniano “se as circunstâncias forem as adequadas”. O Presidente francês referira horas antes que estava a trabalhar para juntar Trump com Hassan Rouhani nas próximas semanas, antecipando um novo acordo nuclear iraniano. Macron e Trump concordam que o Irão não pode ter armas nucleares.
Rússia: a presença ausente
Trump queria, Shinzo Abe também, mas os outros não se estavam a sentir nada bem com o regresso do país que anexou a Crimeia ao restrito grupo das potências mundiais. O Presidente dos Estados Unidos referiu que os sete discutiram a possibilidade de ter de novo Vladmir Putin entre eles e a posição do líder da Casa Branca ficou em inferioridade. “Algumas pessoas gostariam de ver a Rússia de volta. Eu acho que seria vantajoso”, disse Trump, antes de referir que irá convidar o chefe de Estado russo para a cimeira do próximo ano nos EUA. Sergei Lavrov, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, afirmou nesta segunda-feira que a Rússia não tem qualquer intenção de voltar ao clube dos países mais ricos.
Golf: diplomacia em casa
O Presidente dos EUA quer realizar a cimeira do G7 de 2020 num clube de golfe perto de Miami do qual é proprietário. “Não me preocupo nada” com a ideia de ganhar uns dólares com a cimeira, disse Trump, antes de sublinhar que só tem perdido dinheiro desde que chegou à Casa Branca, mas depois de analisar uma dúzia de lugares, a sua equipa chegou à conclusão que o National Doral Miami Golf Club é o melhor em termos de localização (“o aeroporto fica mesmo ao pé”) e de conforto (“quartos luxuosos com maravilhosas vistas”).
Agenda climática: isso é peanuts
Além do caso específico da Amazónia, o G7 discutiu as alterações climáticas sabendo de antemão as ínfimas hipóteses de acordo com a actual administração dos EUA. No entanto, o Presidente francês precisava de demarcar territórios, demonstrar que, mesmo assim, há quem se empenhe em encontrar soluções para um assunto tão premente. Trump nem sequer apareceu quando se discutiu o tema, alegando os seus assessores que coincidia com reuniões bilaterais com a Alemanha e Índia, cujos líderes estavam na sala a falar das alterações climáticas. O líder da Casa Branca já reclamara em cimeiras anteriores que se perdia demasiado tempo a discutir temas sem importância, como limpar os oceanos de plástico. Mesmo assim, Trump sublinhou a sua condição de “ambientalista” e de conhecedor do assunto: “Penso que sei mais sobre o ambiente que a maioria das pessoas”.
Almoço: praia deserta
As fotografias dos dois homens conversando à mesa da esplanada deserta, de uma praia de Biarritz onde só havia agentes secretos e forças especiais, é uma das imagens que fica da cimeira de Biarritz. Trump e Macron conversaram a sós e o chefe de Estado norte-americano elogiou no Twitter o encontro e daí para a frente foi insistindo na existência de um consenso entre as sete potências que nunca se chegou verdadeiramente sentir, pelo menos, em termos de decisões concretas para resolver “os muitos problemas” de que falava a chanceler alemã, Angela Merkel ou “os muitos conflitos”, referidos pelo chefe de Estado francês.
Biarritz: cidade sitiada
Biarritz tornou-se uma cidade sitiada durante os dias que decorreu a cimeira do G7. As manifestações, pacíficas ou não, foram tratadas sem clemência pelas autoridades francesas, impedindo uma série de protestos pacíficos em zonas próximas da cidade balnear e nas localidades vizinhas. Mais de 100 pessoas foram detidas. “É escandaloso que centenas de pessoas tenham sido confinadas durante horas sem qualquer razão e antes mesmo de iniciarem o seu protesto pacífico”, protestou Marco Perolini da Amnistia Internacional francesa.