A caça

Foi jantar sozinha e, ao balcão de um dos restaurantes mais icónicos da cidade onde era cliente assídua, aviou uma garrafa de vinho. Decidiu então começar por marcar encontro com o menos atraente da lista.

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Mag Rodrigues

Há muito que a mulher procurava algum consolo nas aplicações de encontros e obtinha apenas a crença minguante em emparelhar com alguém que a satisfizesse.

Na véspera, siderada pelo marasmo em que vivia, pegou no telemóvel e horas depois viu-se estacionada numa rua sem saída. Encontrou-se com um rapaz de 29 anos — um deputado. Começaram a foder na parte de trás do carro dele, com as pernas dela apoiadas uma em cada janela. Era a primeira vez que se encontravam. Não pretendia voltar a vê-lo. Nunca repetira um encontro. Não valia a pena. Talvez o problema residisse em si própria, na sua falta de interesse por cumprir as regras. “Não se fode no primeiro encontro.” Qualquer mentecapto sabe as regras.

Em ocasiões regadas a álcool, tinha estado com mais do que uma pessoa por noite — o seu recorde foram três. Naquela noite, também saiu com ideias de caça grossa. Foi jantar sozinha e, ao balcão de um dos restaurantes mais icónicos da cidade onde era cliente assídua, aviou uma garrafa de vinho. Decidiu então começar por marcar encontro com o menos atraente da lista. Escolheu uma pensão perto do restaurante. Já estava no quarto quando ele chegou. O pobre rapaz era inexperiente, mostrou-se nervoso e constrangido quando a mulher abriu a porta. Afinal não era gordo, tinha um rosto redondo, e as rugas eram de expressão, típicas de quem se ri bastante. Suava um pouco junto ao buço, pôde vê-lo pelo brilho excessivo junto ao lábio superior. Pareceu-lhe um leitãozinho e isso despertou-lhe ânsias de o comer. O rapaz ainda tentou fazer conversa, mas a mulher não lhe deu abébias, enfiou-lhe a língua na boca num gesto ostensivo de gula.

O sexo fora demasiado gentil e afectuoso, o que a encheu de enfado. Ainda não tinha abandonado o quarto, aproveitando a ida do leitãozinho à casa de banho, e já estava de telemóvel na mão a tratar do encontro seguinte. Apercebeu-se que o aparelho tinha pouquíssima bateria. Aceitou ir ter a casa de um tipo com quem não tinha trocado mais de vinte linhas de conversa. Não era longe da pensão. Despediu-se do leitãozinho. “Até nunca mais.” Apanhou um táxi para a morada que o tipo lhe indicara por mensagem. As fotografias mostravam um homem forte, moreno, musculado. Ia comê-la com ganas, tinha esperança que sim. Apanhou o elevador até ao segundo andar e tocou à campainha. Reparou no tapete da entrada onde podia ler-se “Chegay”. Segundos depois apareceu o tal homem. As fotografias faziam jus à imagem presencial. Estava perante um enorme cavalão de fato de treino e com aparência de bimbo, é certo, mas ainda assim com mais de um metro e noventa de altura. Puxou-a gentilmente pelo pulso direito para dentro de casa e, após ter fechado a porta, encostou-a com o peito à parede, colocando-a de costas para si. Arregaçou-lhe a saia e apalpou-lhe o rabo todo com a mão. Foi sodomizada contra a parede durante uns bons 15 minutos.

Quando apanhou o elevador para sair do prédio doía-lhe um pouco o rabo e não estava satisfeita. Ouvira histórias de pessoas que foram agredidas e violadas nestes encontros com desconhecidos. Nunca tinha isso em mente quando decidia ir à caça. A fome era superior ao receio, e além disso era um traço da sua personalidade — ser deveras imprudente. Por isso, mal se viu na rua voltou a pegar no telemóvel. Infelizmente, o visor a negro indicava falta de bateria e, portanto, o fim da caça.

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