Surpresas e desilusões na Copa América
Concluída a fase de grupos da competição, há selecções a destacarem-se pelos melhores motivos, mas também protagonistas sem o brilho esperado.
A fase de grupos já ficou para trás e a Copa América vai entrar na fase a eliminar. Oito selecções resistem na corrida pelo troféu, incluindo a Colômbia de Carlos Queiroz, uma das boas surpresas da competição organizada pelo Brasil. Sem Neymar, lesionado antes do início do torneio, os holofotes têm estado centrados em Messi, que carrega nos ombros as expectativas dos argentinos. E, apesar de a organização dizer que está satisfeita com as assistências, as imagens de bancadas vazias têm sido recorrentes.
Colômbia
Carlos Queiroz chegou, viu, e está a convencer. Três meses depois de ter-se estreado no comando da selecção colombiana, o técnico português já tem resultados para mostrar: os “cafeteros” foram a única equipa a conseguir o pleno de nove pontos na fase de grupos da Copa América, e fizeram-no com estilo – quatro golos marcados e zero sofridos, tendo iniciado a competição com um triunfo sobre a Argentina (2-0), um resultado que não acontecia há 12 anos. A Colômbia “revelou-se uma equipa ferozmente competitiva”, escreveu o correspondente do diário espanhol El País, e agora terá pela frente nos quartos-de-final um teste complicado, perante o Chile.
Venezuela
Apesar de o país estar mergulhado na situação política e social que se conhece, a selecção venezuelana tem dado boa conta de si na competição organizada pelo Brasil, ultrapassando a fase de grupos com uma vitória e dois empates (um deles frente ao anfitrião). É a única das oito selecções presentes nos quartos-de-final que nunca venceu a Copa América, e o duelo com a Argentina será uma recordação da edição anterior: em 2016 as duas selecções também se enfrentaram nos quartos-de-final, na altura com goleada da “albiceleste” por 4-1. Mas esta Argentina está longe de meter medo... poderá a “vinotinto” sonhar em repetir 2011, quando chegou pela única vez às meias-finais?
Qatar
Única selecção estreante desta edição da Copa América (que disputou como convidada, tal como o Japão), foi naturalmente eliminada na fase de grupos, mas não foi por isso que deixou de ser uma surpresa positiva. Recuperou de uma desvantagem de dois golos para empatar com o Paraguai (2-2), depois só cedeu pela margem mínima frente à Colômbia (com um golo aos 85’), e finalmente caiu perante a Argentina, apesar de ter dado boa réplica e mostrado, a espaços, um futebol interessante. A equipa de Félix Sánchez Bas continua a preparar-se para o Mundial 2022, do qual será anfitriã.
Brasil
Ser anfitrião de um torneio internacional não é novidade para o Brasil, como também não é nova a inerente carga de expectativas depositada sobre os ombros dos jogadores e seleccionador Tite. O técnico, que completou recentemente três anos no cargo, foi “de ídolo nacional a alvo de vaias”, escreveu o diário O Globo. Ele e a selecção, que ainda não convenceu os adeptos da casa apesar do apuramento tranquilo para os quartos-de-final, com o melhor ataque da fase de grupos (muito graças à goleada por 5-0 ao Peru, claro). Os jogadores já ouviram vaias, e um falhanço frente ao Paraguai nos quartos-de-final não será perdoado.
Argentina
Um pouco à semelhança do que se passa com o Brasil (ou melhor, com os brasileiros), também para a Argentina (ou melhor, para os argentinos) nunca nada será suficiente. Lionel Messi carrega os anseios de um país que desde 1993 não celebra um troféu (deixamos aqui de lado o ouro olímpico em 2004 e 2008). O trajecto da Argentina na fase de grupos foi suficiente sem ser brilhante, tendo chegado à última jornada obrigada a ganhar ao Qatar para chegar aos quartos-de-final. Segue-se a Venezuela e mais uma oportunidade para a “albiceleste” calar os críticos – e não podia haver melhor palco que o Maracanã, onde terá de exorcizar as memórias da final do Mundial 2014 perdida frente à Alemanha.
Assistências
A organização faz um balanço positivo do número de espectadores da fase de grupos, mas as imagens de bancadas vazias têm marcado a Copa América. “Tivemos um aumento de 10% de público em relação ao Chile (na edição de 2015)”, sublinhou ontem o director geral de comunicações do comité organizador, Agberto Guimarães. Na véspera, o enviado do El Mundo retratava um cenário menos animador: “Estádios gigantes e desertos, no melhor dos casos a roçar metade da lotação, para ver equipas como Argentina ou Colômbia. E a ‘canarinha’ não está muito melhor. O Brasil só esteve perto de encher a Arena Corinthians”. A pior assistência até ao momento registou-se no Equador-Japão: 9729 adeptos (dos quais apenas 2106 pagantes, segundo a imprensa brasileira) estiveram nas bancadas.
Bolívia e Equador
A Bolívia, tal como o Qatar e o Equador, foi uma das selecções últimas classificadas da fase de grupos nesta Copa América. Se para os convidados até acabou por ser uma estreia positiva (um ponto somado), no caso dos bolivianos e equatorianos não pode dizer-se o mesmo. A Bolívia foi a única selecção só com derrotas e teve a pior defesa da fase de grupos (nove golos sofridos) – em 2015 tinha chegado aos quartos-de-final. O Equador somou um ponto frente ao Japão, num jogo que tinha de vencer para apurar-se (e que teve a tal pior assistência desta edição do torneio). Na edição anterior da Copa América os equatorianos estiveram nos quartos-de-final, mas no Brasil mostraram uma imagem muito pálida. E as facas já estão a ser afiadas: “Não vou demitir-me. Se quiserem despedir-me, que o façam. Não acho que eu seja o problema”, afirmou ontem o seleccionador equatoriano, Hernán “Bolillo” Gómez.