Euphoria: os teus pais podem não te deixar ver esta série
A série tem Drake como produtor-executivo e uma ninhada de actores jovens que assumem o papel de alunos numa escola secundária. Não tem como objectivo ser controversa ou dar glamour ao mundo da droga, antes mostrar o seu lado sombrio – e que é possível sair dele.
Tem drogas, sexo, álcool, drama e transforma uma “miúda da Disney” numa toxicodependente de 17 anos que snifa droga às escondidas depois de uma visita falhada a uma clínica de reabilitação — é Zendaya quem assume o papel de protagonista. Falamos de Euphoria, a nova série da HBO que traz para a ribalta temas sensíveis, em parte baseados na própria batalha com a droga do seu criador, Sam Levinson. Estreia-se esta segunda-feira, 17 de Junho (um dia depois da estreia nos EUA), na plataforma de streaming HBO Portugal.
“Vai haver pais que vão ficar completamente perturbados”, assumiu o realizador da série, citado pela Hollywood Reporter. “Não quero desencadear nada, mas também temos de ser autênticos. Acho que as pessoas percebem se estamos com paninhos quentes e se não mostramos o alívio que as drogas podem representar. Perde o impacto”, reconhece Levinson, que conta que sentiu vontade de experimentar heroína depois de ver o filme Requiem for a Dream — agora, está sóbrio há mais de uma década e quis retratar nos ecrãs o efeito devastador da droga.
Baseada no drama israelita com o mesmo nome (que teve uma temporada entre 2012-2013), Euphoria aglomera um elenco de estrelas em ascensão: além de Zendaya, tem Sydney Sweeney, Storm Reid, Austin Abrams, Hunter Schafer, Algee Smith, Alexa Demie, Barbie Ferreira e Jacob Elordi. São oito episódios de quase uma hora, todos com nomes de canções rap (à excepção do primeiro). Com Drake como produtor-executivo, a banda sonora é alvo de atenção redobrada, indo de Beyoncé a Jorja Smith — e até a Paul Anka.
Para Zendaya, o tom da narrativa contrasta com os seus trabalhos anteriores: a actriz e cantora subiu para o estrelato com a sua participação na série Shake It Up e K.C. Agente Secreta (ambas da Disney). “Não acredito que algum dos meus fãs de oito anos saiba [da existência desta série]. E mesmo que saibam, não acredito que os pais os deixassem ver”, diz, em entrevista ao The New York Times. “É um salto assustador. Mas acho que estava na altura de fazer isto”, admite, dizendo que voltar ao estilo Disney seria como “estar a repetir para sempre o mesmo ano na escola”.
Ainda que se foque no consumo de droga, fala-se também de depressão, insegurança, redes sociais, (trans)sexualidade. O PÚBLICO assistiu aos quatro primeiros episódios e há nudez, violência e cenas explícitas — tanto de consumo de droga como de relações sexuais —, razão que levou a HBO a contratar um “coordenador de intimidade” para garantir conforto e um ambiente de filmagens “seguro”. Ainda assim, o rapper Astro desistiu a meio das gravações por causa da natureza das cenas que teria de filmar — mas não houve uma justificação oficial para a sua saída. Foi substituído por Algee Smith.
E numa indústria que nos habitua sobretudo a ver nudez feminina, a série está também a ser notícia pela quantidade de corpos masculinos que põe a nu: só no primeiro episódio, aparecem cerca de 30 pénis — sobretudo devido a uma cena nos balneários, um tributo ao filme Carrie, que ainda assim foi cortada para a versão final (antes eram mais de 80).
Euphoria é uma série que tenta acompanhar com maturidade os traumas da adolescência, que quer ir além da controvérsia com um certo equilíbrio. É “forte”, mas a crítica do Guardian considera-a uma das séries “mais audazes e eficazes” deste ano.
“Sei que não é suposto dizê-lo, mas as drogas até são fixes. Até que estragam a tua pele. E a tua vida, e a tua família”, reconhece a protagonista Rue Bennett num dos episódios. Mas o actor Eric Dane, que faz de pai de um dos adolescentes e que tem também um historial com o consumo de droga, não acredita que “alguém vá ver isto e pensar que as drogas são fixes”. “Esta não é uma série que dá glamour ao consumo de droga, de forma alguma”: mostra o sombrio mundo da toxicodependência “como ele é”, sendo que a única “beleza” é o seu abandono.