Jorge Moreira da Silva: “A ‘marca’ PSD sofreu um dano reputacional de enorme significado”
Num artigo de opinião publicado no Expresso, o antigo vice-presidente do PSD escalpeliza os resultados eleitorais do PSD e deixa conselhos grátis para Rui Rio.
“Não sei o que é pior: ter tido um resultado desastroso - o pior da nossa história - ou não ter percebido as razões para que tal tivesse acontecido, como parecem evidenciar as declarações de Rui Rio na noite eleitoral e no decorrer desta semana.” Jorge Moreira da Silva começa assim o artigo de opinião que assina este sábado no jornal Expresso e no qual analisa, ao detalhe, as razões do desaire eleitoral nas europeias de 26 de Maio.
Sem máscaras ou paninhos quentes, o vice-presidente do PSD e antigo ministro do Ambiente de Pedro Passos Coelho assume que o resultado eleitoral “foi humilhante” e que o “PSD está totalmente desorientado” com aquele que é o "pior resultado de sempre” desde a sua fundação. “Não vale a pena procurar bodes expiatórios na comunicação social ou na suposta contestação interna. A responsabilidade por este desastre eleitoral e por esta humilhação, que os militantes do PSD não mereciam, reside única e exclusivamente na estratégia e gestão política da liderança do PSD”, conclui.
E depois de elencar as razões por que o partido devia sair vencedor mas sai vencido (familygate, competências do candidato do PS, brechas na “geringonça”, serviços públicos, preços dos combustíveis), defende que “em condições normais, deveria ocorrer uma mudança de liderança do PSD por iniciativa do próprio presidente”. Ou seja, Rui Rio devia demitir-se e agendar “eleições directas muito rapidamente”.
Conselhos grátis
Como sabe que o líder do PSD não manifestou qualquer desejo de se afastar do partido, e até diz que pode ganhar as legislativas, Jorge Moreira da Silva acrescenta que Rui Rio ainda tempo para alterar “drasticamente a sua estratégia política até às eleições” de Outubro.
No seu texto, o antigo líder da JSD dirige vários alertas a Rui Rio numa espécie de guião para os próximos meses. O mais importante resume-se numa ideia: o líder tem de saber ler os resultados e mudar de estratégia. Em vez de “abdicar, renegar e apoucar a herança do Governo reformista do PSD/CDS”, como tem feito até aqui, deve acolher a sua vocação reformista. Em vez de reagir aos casos do dia e apostar “tudo em consensos impreparados com o PS", deve assumir uma “visão diferenciadora sobre as diversas áreas de política pública”. Em vez de aceitar a “mera mediatização da agenda parlamentar”, deve valorizar a política de proximidade, indo a fábricas, escolas e hospitais, entre outros exemplos.
“Não, não basta ir às feiras da agricultura com as televisões atrás, fazendo um número mediático. É preciso querer e saber ouvir as pessoas, sem holofotes e com genuíno interesse em escutar e aprender”, aconselha Jorge Moreira da Silva, lamentando, concretamente, a gestão do dossier dos professores que permitiu associar o PSD a uma imagem de irresponsabilidade orçamental. “A ‘marca’ PSD sofreu um dano reputacional de enorme significado”, conclui.
No mesmo jornal, o ex-deputado e governante Pedro Duarte acrescenta que “o PSD vive um estado de emergência”, defendendo que todos, incluindo o líder, devem contribuir para a coesão interna. “O líder deve colaborar neste espírito de unidade, deve procurar agregar e não excluir, somar e não subtrair. Deve chamar para o seu projecto aqueles que divergiram da sua estratégia, nomeadamente convidando-os para as listas de deputados.”