Orbán, “o Trump antes de Trump” e a democracia iliberal na Hungria
Há anos que muitos húngaros se queixam que não vivem numa democracia. O primeiro-ministro acha que é o único representante do povo.
Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro, é o exemplo dado sempre que alguém diz que os partidos populistas e nacionalistas não conseguem cumprir uma agenda quando chegam ao poder.
O que Orbán foi conquistando desde 2010 é impressionante. Há anos que muitos húngaros se queixam de que não vivem numa democracia: Orbán, como bom populista, apresenta-se como único representante do povo. De um povo que é húngaro primeiro, mas não só: um povo húngaro que exclui sem-abrigo, activistas pelos direitos humanos, minorias, judeus, muçulmanos...
No entanto, a União Europeia só recentemente começou procedimentos formais contra Budapeste por desrespeito às regras democráticas. Orbán pertence, ainda, formalmente, ao maior grupo político europeu, o PPE, e conseguiu mesmo não ser suspenso, e sim auto suspender-se.
Orbán reformou o sistema judicial e a nomeação de juízes, afunilou o financiamento dos media até restarem só os que não criticam nem desafiam, revisitou autores reverenciados no regime nazi húngaro nas escolas, descriminou judeus e fez de um importante judeu, George Soros, o seu “inimigo público número um”, fez fechar a Universidade da Europa Central, fundada por este, ilegalizou ajuda a refugiados, criminalizou sem abrigo, dificultou o trabalho de organizações não-governamentais e demonizou activistas.
Os revezes que tem tido tem sido pequenos: um movimento conta a candidatura aos Jogos Olímpicos, um movimento de protesto contra a “lei da escravatura”, em que as empresas poderiam forçar os trabalhadores a várias horas extraordinárias a pagar meses depois – o país enfrentou uma grande saída de jovens que é atribuída a uma mistura entre condições mais atractivas no estrangeiro e dificuldade em aceitar a situação política de falta de liberdades no próprio país. Ou um recente mau resultado nas eleições locais.
Até agora, Orbán, “o Trump antes de Trump”, como lhe chamou Steve Bannon, ex-estratega do Presidente americano e a voz de extrema-direita na Casa Branca, tem ultrapassado os desafios. A incógnita é agora como se posicionará se o PPE lhe retirar de facto o apoio e Bruxelas pressionar mais: a escolha é moderar ou radicalizar.