“De menos sete aos 37”, são as contas que se fazem no Marquês

No Marquês de Pombal, em Lisboa, a rotunda é pequena para a festa benfiquista. De menos sete pontos aos 37 títulos, as contas só se fazem no fim.

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A festa dos adeptos nas ruas de várias cidades portuguesas LUSA/RICARDO CASTELO
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A cidade está deserta e todos os caminhos vão dar ao Marquês. Nas ruas, ecoa em cada esquina que “o campeão voltou”. Este sábado, Lisboa é encarnada e está parada para ver o Benfica celebrar o seu 37º título de campeão nacional. Vindos de São Sebastião, da Avenida da Liberdade ou da Av. Fontes Pereira de Melo, todos querem o mesmo. A festa está montada no lugar do costume e avizinha-se longa.

Recuemos a Outubro de 2018. Jogava-se a sétima jornada do campeonato e o Benfica recebia o FC Porto na Luz. Uma bola a zero para os “encarnados” no final da partida e ouvia-se através dos altifalantes do estádio uma música de tourada. É assim que esta história começa. Lucas Soares, 52 anos, não esqueceu o episódio e decidiu trazer para festa na rotunda um touro na cabeça. “Põe a música do toiro”, escreveu num dos cartazes colados ao dorso do animal. O Paso Doble resultou numa multa por violação dos “deveres de correcção e urbanidade” para o Benfica, mas foi o presságio para a conquista do título. “Quis brincar com a situação e foi por isso que vim com o touro”, descreve o brasileiro. “De menos sete aos 37”, é essa a única matemática que interessa agora, diz Lucas Soares. “O Bruno Lage pegou na equipa com menos sete pontos que o FC Porto e levou-a ao 37º título de campeão nacional”.

Entre buzinadelas e palavras de ordem, ouvem-se os primeiros acordes no palco que mais tarde receberá a equipa. A festa é feita de vermelho e branco e este sábado tudo o resto fica para trás. Os festejos são feitos em família, de pequenos a graúdos, e no Marquês de Pombal há espaço para todos desde que a energia não acabe antes da família benfiquista receber Bruno Lage e o resto da trupe.

Cristiano Correia, de 30 anos, veio com a família. Não é a primeira vez que a filha vê o Benfica ser campeão, mas é neste sábado que finalmente pode cumprir uma promessa feita a um amigo. Dias antes do último jogo contra o Sporting, Cristiano descobriu um quadro em casa do pai. “Pedi o quadro ao meu pai e disse-lhe que tinha de ficar com ele”. O olho azul e o rosto arredondado na tela não são difíceis de reconhecer. O pingo ao canto do olho não deixa dúvidas: é o menino da lágrima.

“Ganhámos 4-2 e prometi ao meu amigo que traria o menino da lágrima se o Benfica fosse campeão”, explica. E assim foi. Ao entrar, um polícia tentou dificultar-lhe a promessa. “Na entrada, um polícia disse-me que o quadro não podia entrar. Não pude acreditar”, diz, entre cânticos dirigidos a quem vai passando ao lado. “Ó senhor polícia, não faça uma coisa dessas. Este quadro está há 17 anos à espera de sair de casa”, argumentou, aludindo ao ano em que o Sporting festejou o último título de campeão nacional.

“Para o ano é que é”. As palavras são do amigo sportinguista, que espera há 17 anos por um gostinho a vitória. Entre promessas cumpridas e touradas, o Marquês de Pombal é todo deles. Dos benfiquistas, que pararam a capital para celebrar a reconquista. Para o ano, logo se vê.

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