De 1903 até hoje: percurso sonoro “desvenda” memórias de Estarreja
Produção da Casa da Esquina estreia este sábado, propondo uma (re)descoberta da cidade. Um percurso orientado pelo som e com várias histórias contadas na primeira pessoa.
É neles que reside parte da riqueza da paisagem de Estarreja e consta-se que foi à sua existência que o município foi buscar o nome. São onze braços da ria que entram pelo território dentro. Chamam-lhe esteiros, designação escolhida para o novo projecto de áudio-walk que tem estreia prevista para este sábado. Um percurso sonoro pelas ruas da cidade, que atravessa diferentes tempos e espaços. A “viagem” estende-se de 1903 até aos dias de hoje e incita o público a (re)descobrir Estarreja a partir de testemunhos dos trabalhadores da Fábrica do Descasque do Arroz e de vários acontecimentos e figuras da terra - entre eles o Nobel da Medicina Egas Moniz, o BioRia e o Carnaval de Estarreja.
Produzido pela Casa da Esquina, que já em 2008 concebeu um percurso sonoro para a cidade de Coimbra (Chambres Rooms Zimmers), o percurso “Esteiros” explora a memória e a identidade de Estarreja associando-a à arquitectura e ao roteiro de arte urbana da cidade. “Quando percebemos que já havia trabalho feito sobre a fábrica de descasque de arroz, entendemos que seria interessante partir daí, desses testemunhos dos trabalhadores”, introduz Ricardo Correia, da Casa da Esquina. Foi ele próprio quem escreveu o guião do registo sonoro que leva os visitantes a deambular pelas memórias de Estarreja e que apresenta várias memórias e histórias contadas na primeira pessoa.
Ricardo Correia – apoiado por Rita Grade e Luís Pedro Madeira na criação e investigação – chamou a este registo sonoro antigos trabalhadores da fábrica de descasque de arroz. São eles que contam como era o dia-a-dia da fábrica nascida em 1922, na época áurea do cultivo do arroz no baixo Vouga lagunar, fruto da iniciativa de um homem empreendedor, Carlos Marques Rodrigues. É através da sua voz que se recorda o seu encerramento, em plena II Guerra Mundial, e reabertura, em 1950. Relatos que se ouvem em frente às ruínas que, dentro de algum tempo, deixarão de o ser – a câmara municipal vai reabilitar a antiga unidade industrial e transformá-la numa “Fábrica da História”.
“Esteiros” explora, também, os murais artísticos que decoram as paredes de alguns edifícios da cidade, nomeadamente a obra de Vhils - que retrata, precisamente, uma mulher da terra que se dedica ao cultivo do arroz – e do italiano Millo. Entre passos e paragens, trazem-se, igualmente, à tona as memórias do carnaval de Estarreja, em especial a sua presença na imprensa - a partir de 1903 e até à actualidade, atravessando vários períodos marcantes da história portuguesa –, do filho da terra que recebeu um Nobel, entre outras figuras locais.
Uma verdadeira viagem no tempo, concretizada ao longo de 10 faixas sonoras e cerca de uma hora de caminhada – com apenas um leitor de mp3 e uns auscultores cada um pode fazer a sua própria deambulação. Para este sábado, estão previstas cinco sessões (às 15h00, 16h00, 17h00, 18h00 e às 21h30) – a participação é gratuita, mediante inscrição obrigatória. No futuro, o projecto pode vir a contar com novas apresentações, sem que nada esteja ainda previsto. “O percurso sonoro fica concluído e acredito que tem todas as condições para voltar a ser apresentado”, estima Ricardo Correia.
A estreia de “Esteiros” integra o cartaz preparado no âmbito da programação cultural em rede da região de Aveiro - pretende trabalhar a relação entre o território e a memória - e que se estende por todo o fim-de-semana. O primeiro espectáculo a chegar é “Paião”,com a superbanda de homenagem a Carlos Paião. Esta sexta-feira, às 21h30, no Cine-Teatro de Estarreja a proposta passa por (re) lembrar o legado de um dos maiores cantores portugueses.
No domingo, é apresentado o espectáculo de dança infantil “Voar!” de Leonor Barata, que tem como ponto de partida o habitat natural da ria e as suas excelentes condições climatéricas para voos planados e pensamentos esvoaçantes.