Desfazer o nó do garrote
A poesia de Paulo da Costa Domingos enfrenta o mundo de igual para igual. Nem reverência, nem temor, há por aqui. Antes o desassombro de dizer de forma clara mas repensada o que é viver aqui e agora.
Mesmo alguns leitores menos desatentos poderão ficar surpreendidos de saber (ou recordar) que Paulo da Costa Domingos (PCD) publicou, no ano que passou, mais dois livros de poesia, além deste A Vau, surgido já no fim de 2018: Jocasta (Viúva Frenesi, 2018) e Dizimar (Viúva Frenesi, 2018). Mais recentemente, já em 2019, Paulo da Costa Domingos reuniu, em Carmes (Companhia das Ilhas, 2019), “os versos que o autor dá por salvos da erosão no processo criativo”, assim reavaliando e reequacionando a sua poesia compreendida entre os anos de 1971 e 2018. Se Jocasta nos falava de um “inferno urbano”, Dizimar, como se quisesse despertar-nos de um qualquer torpor, situa-nos num lugar, que é o nosso, “onde ser livre/ se tornou ser gestor/ dos utensílios da tortura,/ banqueiro-amador da usura”. São dois exemplos breves, retirados de dois livros igualmente breves, mas que demonstram até que ponto a poesia de Paulo da Costa Domingos tem feito questão de se abeirar do que rodeia o sujeito da escrita. Ao fazê-lo, contudo (e esse é um ponto prévio que não será de mais repetir), não abre caminho a qualquer tipo de menosprezo da expressão (e mesmo da expressividade). Muito pelo contrário, a linguagem recobra permanentemente forças, acera-se, repleta das munições adequadas para enfrentar o descampado do mundo, o terreiro de dias enfrentados sem ilusões nem lenitivos — “A fundição Universo é um sucesso,/ um cáustico, e escande versos/ de angústia nunca resolvidos.” (p. 9)
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