Azeredo Lopes garante que só leu “memorando” de Tancos quando se demitiu
Antigo ministro da Defesa Nacional é peremptório e diz que o seu ex-chefe de gabinete não lhe transmitiu em directo o teor da conversa com a PJM.
O ex-ministro da Defesa Nacional garante que só leu o “memorando” sobre a recuperação do material roubado nos paióis no dia em que se demitiu do cargo. Azeredo Lopes falava esta terça-feira na comissão parlamentar de inquérito a Tancos, que terminou nesta terça-feira a fase de audições no Parlamento.
“Não tenho memória de alguma vez ter lido o documento antes da minha demissão”, disse o antigo titular da Defesa, referindo-se ao papel que responsáveis da PJM [Polícia Judiciária Militar] entregaram em 20 de Outubro de 2017 ao seu chefe de gabinete, o tenente-general Martins Pereira.
Aquilo a que se convencionou chamar memorando não corresponde à formalidade estilística. Neste caso, é um documento dactilografado, de duas páginas, sem data, assinatura ou timbre, no qual, numa redacção desconexa, ausenta de ordenação, é descrita por ambos oficiais da PJM, que são arguidos no processo no âmbito da Operação Húbris, a forma como, a partir de um informador e de uma chamada anónima feita por um agente da GNR, o material roubado em Tancos foi depositado num baldio da Chamusca. Sobre o teor deste documento, o ex-ministro afiançou ter conhecimento de alguns pontos através do seu antigo chefe de gabinete, mas sem nunca o ter lido. “O tenente-general Martins Pereira não transmitiu em directo o teor da conversa [com o coronel Luís Vieira e o major Vasco Brazão]”, referiu.
Só a 12 de Outubro de 2018, mais de um ano depois de as duas folhas terem chegado às mãos do tenente-general Martins Pereira, que já entregou um exemplar ao Ministério Público, há novos desenvolvimentos. Foi o assessor militar do primeiro-ministro, o tenente-general Tiago Vasconcelos, quem, a 11 de Outubro, perante as múltiplas referências a um memorando e à divulgação de excertos na imprensa, pediu o documento a Martins Pereira. Um dia depois recebeu-o, conforme relatou o colaborador de António Costa à comissão de inquérito.
Depois, segundo a discrição desta terça-feira aos deputados de Francisco André, chefe de gabinete de Costa, os papéis que lhe foram entregues por Vasconcelos chegaram ao conhecimento, no mesmo dia, do primeiro-ministro. E na reunião em que foi decidido o futuro de Azeredo, a 12 de Outubro, foram lidos pela primeira vez pelo ministro que cumpria os seus últimos minutos com a pasta da Defesa Nacional. Depois, recorde-se, de o seu antigo chefe de gabinete, Martins Pereira, os ter recebido e deles ter conhecimento desde 20 de Outubro de 2017.
“Nunca senti desconforto ou falta de apoio das Forças Armadas, acredito que era uma catarse necessária ao Exército”, admitiu o antigo titular da Defesa num balanço ao desempenho da sua função. A frase é a resposta, meses depois de abandonar o Ministério, às demissões de oficiais-generais e às críticas pela sua gestão política do assalto a Tancos.
“Nunca me senti afectado pela opinião política dos militares”, assegurou. No entanto, concedeu que os casos que marcaram o exercício da sua função, desde o Colégio Militar à morte de dois formandos no curso de Comandos, contribuíram para a forma como se lidou com o assalto aos paióis nacionais.
“Tenho a noção muito clara de que o meu tempo como ministro da Defesa Nacional se encerrara e que a minha continuidade na função podia ser prejudicial”, garantiu.