Alain Delon, que gostou de morrer

Numa carreira de mais de 80 filmes, delimitou para si próprio um território rarefeito, tenebroso e solitário, foi metteur en scène da sua desmaterialização. Vejam-se , L’Insoumis ou Monsieur Klein. O actor é homenageado este domingo pelo Festival de Cannes.

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Alain Delon quando jovem Sunset Boulevard/Getty Images

Envelhecer? “É um naufrágio” –​ aqui Alain Delon citava o General de Gaulle. Aconteceu há dias na televisão francesa, numa emissão em que o entrevistado suspendeu os seus habituais ímpetos homofóbicos e xenófobos (o amado de Gaulle sempre é melhor do que o amigo Jean-Marie Le Pen), não falou de si próprio como “ele” e foi comovente. Sem vergar a vaidade, isso ele não faz. Mesmo se, aos 83 anos, é um homem num corredor com os seus mortos, que lhe fazem “uma falta terrível”. Não por acaso, evocou-se nessa entrevista La Chambre Verte (1978), de François Truffaut, filme que ele quis interpretar. Seria o próprio Truffaut a fazê-lo, na sua obra mais privada, mas Delon chegou a escrever-lhe para lhe falar desse filme que tanto lhe dizia. Uma fantasia então interpõe-se: Delon “é” Julien Davenne, o homem de La Chambre Verte que vive para o altar dos seus mortos.

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