Miguel Relvas critica “acto de desnorte político” de Rui Rio

Ex-ministro de Passos Coelho diz que o PSD se colocou do lado oposto àquele em que esteve no 25 de Novembro.

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Miguel Relvas Daniel Rocha

Um “acto de desnorte político”, uma “inaceitável opção de incoerência”, “amadorismo e infantilidade política”. Em suma, uma “mancha”. Miguel Relvas, ex-ministro do Governo de Pedro Passos Coelho não tem dificuldades em qualificar e criticar a estratégica política do PSD nas votações das apreciações parlamentares sobre o decreto dos professores.

“O desconhecimento assumido por Rui Rio em relação à legislação que mandou aprovar e que o associa à extrema-esquerda só pode ser interpretado como um acto de desnorte político”, diz Miguel Relvas ao PÚBLICO. “Este é acto sem precedentes na história do PSD e com consequências potencialmente devastadoras”, sublinha.

Para Miguel Relvas, nestas votações o “PSD colocou-se do lado oposto àquele em que esteve no 25 de Novembro e que ditou o essencial da sua identidade ideológica” e isso é um risco porque mata o posicionamento do PSD. O partido pôs em causa o seu papel “de referência enquanto defensor da intransigência despesista, de garante do equilíbrio das contas públicas e de partido reformista”, diz. “Perdeu-se numa inaceitável opção de incoerência política, correndo o risco de perder eleitorado natural e potencial”.

A conversa do PÚBLICO com Miguel Relvas decorreu ao longo da tarde de ontem, enquanto se ia adensando o silêncio do líder do PSD em relação à ameaça de demissão do primeiro-ministro. Rio não chegou a falar. Falou Relvas para avisar que o “PSD pode perder identidade e tornar-se numa coisa híbrida, hipotecando todo o seu discurso e posicionamento políticos futuros”.

“Se António Costa está a cavalgar a oportunidade, é porque alguém lha deu, evidenciando amadorismo e infantilidade política e sobretudo, o que é mais grave, total ausência de respeito pela sua matriz e pelo legado de outros que sempre a cumpriram e respeitaram”, critica o ex-ministro que foi secretário-geral do PSD.

Sobre a eventualidade de um recuo do PSD na votação final global do diploma, em plenário da Assembleia da República, Miguel Relvas comenta: “Um recuo não apagará a mancha deixada e criará a suspeita de acordos pós-eleitorais.”

Em vésperas de viajar para o estrangeiro, o antigo governante hoje empresário ainda quis deixar claro que, na sua opinião, “com isto, Rui Rio pode colocar em causa os próximos desafios eleitorais do PSD e permitir ao PS que possa recuperar já nas europeias e que almeje uma vitoria nas legislativas”, quer se realizem no Verão ou no Outono. “Estamos a falar de princípios e de valores que foram completamente desconsiderados”, lamenta Miguel Relvas.

E acrescenta: “Depois dos acordos assinados entre PS e PSD em matéria de descentralização e fundos comunitários — que resultaram em nada —, que permitiram a aproximação ao centro político, agora corre-se o risco, com esta iniciativa, de entregar o centro-direita a António Costa.”

Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais, foi outro social-democrata que reagiu à ameaça do primeiro-ministro, mas optou por não comentar a opção do partido ou a estratégia do líder. Escreveu apenas, no Facebook: “Ainda há uns anos tínhamos um primeiro-ministro que não se demitia porque não abandonava os portugueses num tempo difícil. É comparar os tempos e a espessura da liderança.”

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