Os miúdos do Ajax estão cada vez mais crescidos
Holandeses vencem em Londres com um golo de Van de Beek e estão em vantagem sobre o Tottenham na meia-final da Champions.
Terá Donny van de Beek escrito o antepenúltimo capítulo de uma história digna de um conto de fadas? Pode muito bem ser o caso, porque foi um golo do jovem internacional holandês que fez cair para o lado do Ajax a primeira mão da meia-final da Liga dos Campeões (0-1). No terreno do Tottenham, a equipa comandada por Erik ten Hag mostrou sempre serenidade e deu um passo em direcção à final de Madrid, que se disputa no dia 1 de Junho. Seria notável — e histórico — uma equipa que iniciou o percurso na Champions na segunda pré-eliminatória, a 25 de Julho, estar na partida do título.
Estão tão crescidos os miúdos do Ajax. O treinador do emblema holandês tinha reconhecido que o número de encontros disputados esta temporada (o de Londres foi o 54.º) contribuiu para o desenvolvimento dos jovens que tem às suas ordens. E os jogadores corresponderam às palavras do técnico, com uma exibição madura sem nunca deixarem de mostrar a fantasia inerente à juventude.
Não foi uma partida memorável como algumas que já fizeram neste percurso, mas foi eficaz — e isso não é de desvalorizar.
Neste duelo entre dois nomes improváveis nesta fase da Liga dos Campeões — o Tottenham não marcava presença nas meias-finais há 57 anos, o Ajax tinha sido semifinalista pela última vez em 1997 — foram os holandeses a entrar melhor. E, na primeira jogada de perigo digna desse nome, inauguraram o marcador. Van de Beek recebeu o passe de Ziyech e, com uma desmarcação excelente, ficou cara a cara com Lloris. Aí, teve tempo para tudo: simulou, “sentou” o guarda-redes, e depois atirou para o golo. O posicionamento do holandês poderia suscitar dúvidas, mas o VAR confirmou a legalidade do lance.
O domínio era do Ajax e, aos 24’, os holandeses voltaram a estar muito perto do golo. Numa jogada vistosa, Tadic fez a simulação e deixou a bola passar para Van de Beek, mas desta vez Lloris opôs-se ao remate e afastou o perigo. Por seu lado, o Tottenham deu sinal de vida num livre para a área ao qual Llorente correspondeu de cabeça, mas a bola passou ao lado (26’). Pouco depois, o treinador dos “spurs”, Mauricio Pochettino, era obrigado a mexer na equipa: Vertonghen ficou maltratado num choque com o seu companheiro Alderweireld e teve de sair.
Empurrado pelos seus adeptos, o Tottenham fez duas ameaças mesmo antes do intervalo: Alderweireld ficou perto do golo com um cabeceamento após livre, e Sissoko desferiu um remate forte, de fora da área, mas errou ligeiramente o alvo.
Na segunda parte o Tottenham equilibrou a posse de bola e rondou mais vezes a baliza do Ajax, que se remeteu a uma postura mais expectante e geriu o rumo dos acontecimentos. A compenetração defensiva dos holandeses impedia que os “spurs” conseguissem criar situações flagrantes de golo. Prova disso é que o primeiro (e único) remate enquadrado com a baliza defendida por Onana surgiu aos 50’, com Dele Alli a receber de Lucas Moura mas a não conseguir bater o guarda-redes camaronês.
Seria até o Ajax a ficar muito perto de ampliar a vantagem, com uma bola aos ferros da baliza de Lloris (78’): Tadic tocou para Neres, que rematou cruzado deixando o guarda-redes do Tottenham sem reacção — mas a bola bateu no poste.
Ao contrário do que aconteceu nos oitavos-de-final (Real Madrid) e “quartos” (Juventus), o Ajax parte em vantagem para a decisão da eliminatória. Desta vez não será necessária reviravolta. A segunda mão disputa-se dentro de uma semana, em Amesterdão, na Arena Johan Cruijff — haverá melhor forma de honrar a memória do símbolo do “futebol total” do que alcançar um feito histórico?