De convento a quartel da liberdade: o Carmo abre as portas ao povo

O Quartel do Carmo está aberto a visitas até ao dia 19 de Maio e mostra as suas muitas vidas ao longo de mais de 600 anos. E, claro, as memórias daquele especial dia 25 de Abril de 1974.

Fotogaleria
Fachada do Quartel do Carmo,Fachada do Quartel do Carmo Rui Gauêncio,Rui Gauêncio
A sala em que Marcello Caetano se rendeu a Salgueiro Maia, no Quartel do Carmo, também pode ser visitada
Fotogaleria
A sala em que Marcello Caetano se rendeu a Salgueiro Maia, no Quartel do Carmo, também pode ser visitada João Matos/Arquivo
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria
Fotogaleria

Mais de 600 anos da história de Portugal, 400 anos da história do convento carmelita fundado por D. Nuno Álvares Pereira, 200 anos das guardas militares portuguesas, 108 da Guarda Nacional Republicana (GNR) e 45 anos do 25 de Abril. A exposição “O Carmo aGuarda”, no alfacinha quartel do Carmo, revela tudo isto e ainda oferece como brinde uma magnífica vista sobre a Lisboa velha. A mostra foi inaugurada nesta terça-feira e estará aberta até 19 de Maio. As visitas são grátis e, aos sábados, até tem um quarteto de cordas a dar música aos visitantes.

Para muitos, o Quartel do Carmo é quase só sinónimo da liberdade ganha a 25 Abril de 1974. O palco em que Marcello Caetano se rendeu aos homens comandados por Salgueiro Maia, colocando fim a 48 anos de ditadura. Mas o emblemático edifício lisboeta é muito mais do que isso. A história do convento que se transformou em quartel é revelada na exposição do Museu da Guarda, cujo comando geral ocupa o espaço, e que foi inaugurada nesta terça-feira pelo ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.

Logo se encheu de visitantes. Quem por lá passar pode ainda ver uma exposição temporária do armamento e equipamento usado pela GNR ao longo dos anos e alguns dos espaços emblemáticos do histórico edifício.

Segundo revela o site da GNR, no qual é relatada a história do hoje quartel, a primeira pedra foi colocada a 1389 por ordem de D. Nuno Álvares Pereira. Oito anos depois foi ocupado pelos frades Carmelitas de Moura, tendo sido doado à Ordem do Carmo. Em 1423, o Santo Condestável despojou-se das suas riquezas materiais e vestiu o hábito de donato Carmelita neste seu convento. Aqui habitou uma pequena cela onde faleceu a 1 de Abril de 1431.

O edifício resistiu parcialmente a dois terramotos: 1531 e 1755. Em 1834, com a extinção das ordens decretada pelos liberais, terminou definitivamente a função religiosa do convento que, entretanto, já era ocupado desde 1801 pelo comando da primeira guarda da polícia. A partir de 1845, passou a funcionar exclusivamente como quartel e comando-geral das guardas em Portugal.

Foto
Quarto onde Marcello Caetano iria dormir na noite da revolução Rui Gaudêncio

A exposição do Museu da Guarda tem muito bem documentadas todas as vidas do edifício. Ele próprio faz parte da mostra, com os visitantes a poderem percorrer um espaço que foi também o último bastião da monarquia em Portugal e onde terminaram diversas revoltas da I República.

O 25 de Abril de 1974 merece um espaço nobre na exposição. Abundam fotografias, documentos e objectos daquele histórico dia, em que o ditador Marcello Caetano se refugiou logo de manhã e se rendeu ao fim da tarde às forças comandadas pelo capitão Salgueiro Maia, numa sala que os visitantes podem agora ver e que está exactamente como estava naquele dia.

Sobre este dia no Carmo, Otelo Saraiva de Carvalho conta em diversas entrevistas que quando o comando do Movimento das Forças Armadas deu ordem a Salgueiro Maia para abrir fogo sobre o edifício de forma forçar a rendição do ditador o capitão perguntou: “Quem paga os vidros?”. Acabaram por ser disparadas três rajadas de armas automáticas, mas não se partiu nenhum vidro já que os tiros foram para o ar e Marcello rendeu-se ao fim da tarde sob os gritos de vitória do povo que enchia o largo.

A exposição e os espaços emblemáticos do edifício de estilo gótico podem ser visitados até 19 de Maio, entre as 10h e as 18h – a última admissão acontece às 16h30.

Aos sábados, pelas 11h, é oferecido aos visitantes um momento musical pelo Quarteto de Cordas da Banda de Música da GNR e às quartas-feiras, pelas 10h, tem lugar a tradicional cerimónia do render da Guarda. Entre os dias 23 de Abril e 4 de Maio e no dia 18 de Maio (Dia Internacional dos Museus) existirão recriações históricas e momentos de interacção das mascotes da GNR. As visitas guiadas para grupos superiores a 10 pessoas são sujeitas a marcação prévia, através do e-mail museu@gnr.pt.

A melhor maneira de terminar a exposição é com uma visita à varanda do convento/quartel como uma magnífica vista para o Rossio, o casario da velha Lisboa e o castelo de São Jorge.

“O Carmo aGuarda” e vale mesmo a pena ir.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários