A pensar em ganhar votos, Netanyahu promete anexar colonatos

A extensão da soberania israelita aos colonatos na Cisjordânia é uma reivindicação antiga da direita nacionalista, que ganha corpo a dois dias das eleições legislativas. A concretizar-se, a medida condena solução dos dois Estados.

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Benjamin Netanyahu procura manter-se como primeiro-ministro após as eleições de dia 9 AMIR COHEN / Reuters

A poucos dias das eleições legislativas, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, prometeu que irá anexar os colonatos nos territórios ocupados na Palestina, caso venha a manter-se na chefia do próximo Governo.

As declarações de Netanyahu foram feitas durante uma entrevista televisiva em que, a certa altura, o jornalista perguntou por que não tinha sido alargada a soberania aos colonatos na Cisjordânia, à semelhança do que acontece com Jerusalém Oriental e os Montes Golã – todos territórios considerados ocupados ilegalmente por Israel. “Quem disse que não o iremos fazer?”, ripostou Netanyahu.

“Está a perguntar-me se vamos avançar para a próxima fase, a resposta é sim. Vou estender a soberania e não irei distinguir entre blocos de colonatos e colonatos isolados”, acrescentou o primeiro-ministro.

As declarações de Netanyahu foram imediatamente interpretadas como um gesto de última hora, a apenas dois dias das eleições legislativas de terça-feira, com o objectivo de captar o apoio de pequenos partidos ultraconservadores, de forma a garantir uma coligação de Governo. As eleições são cruciais para o actual primeiro-ministro, acossado por acusações de corrupção e a enfrentar um forte desafio da parte do antigo chefe do Exército, Benny Gantz.

As sondagens mais recentes apontam para um empate entre o Likud de Netanyahu e a aliança Azul e Branca de Gantz e, nesse contexto, o apoio de formações mais pequenas será decisivo.

A anexação dos territórios ocupados na Cisjordânia era uma reivindicação antiga dos sectores mais nacionalistas da política israelita que têm ganho cada vez mais protagonismo nos governos liderados por Netanyahu. Os colonatos tornaram-se o grande símbolo físico da ocupação israelita da Cisjordânia. Calcula-se que quase meio milhão de israelitas vivam nestas comunidades que variam radicalmente entre si, havendo desde pequenos ajuntamentos de casas até grandes cidades e até uma universidade.

A comunidade internacional considera os colonatos ilegais e o Conselho de Segurança das Nações Unidos tem condenado frequentemente a sua propagação e o apoio dado pelo Estado israelita. Na Cisjordânia convivem dois sistemas legais paralelos: enquanto os palestinianos estão sujeitos à lei militar, os colonos israelitas obedecem à lei civil israelita.

Mas a extrema-direita exige que a soberania israelita seja estendida completamente à Cisjordânia, como se de uma região normal se tratasse. Uma das principais defensoras desta ideia é a ministra da Justiça, Ayelet Shaked, líder do partido Nova Direita.

A promessa de Netanyahu foi criticada pelas organizações palestinianas, que a consideram uma machadada no processo de paz. “A declaração dele não foi feita apenas no calor da campanha eleitoral, isto é o fim de qualquer hipótese de paz”, afirmou o dirigente da Organização de Libertação da Palestina, Hana Ashrawi.

Um porta-voz do Hamas garantiu que “a resposta aos crimes e às imbecilidades [de Israel] será feira pela resistência popular e pela resistência armada”.

Os colonatos são vistos como um dos principais obstáculos à solução dos dois Estados, encarada pela generalidade dos observadores internacionais como a mais viável para resolver o conflito israelo-palestiniano, uma vez que foram construídos em território que pertence ao futuro Estado palestiniano.

O colunista do jornal Haaretz, Victor Kattan, considera que “a anexação sobre qualquer forma iria provavelmente acabar com qualquer hipótese de criar um Estado palestiniano”. “Poderá haver desestabilização na Cisjordânia e em Gaza, que poderia levar ao colapso da Autoridade Palestiniana, com Israel a voltar a ocupar a Cisjordânia”, prevê Kattan.

A recente oficialização da soberania israelita sobre os Montes Golã, anexados à Síria, pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, é um dos factores que vem fortalecer as pretensões de Telavive sobre outros territórios considerados ocupados.

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