“Costumava vir de carro, agora vou poupar cerca de 100 euros por mês”
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa revelou esta manhã que já houve 70 mil pedidos de novos passes sociais, grande parte para maiores de 65 anos.
De Cascais para o Campo Pequeno é o percurso que Pedro Campos, de 50 anos, faz diariamente. Utiliza três transportes: autocarro de casa para a estação de Cascais, comboio até ao Cais do Sodré e metro até ao Campo Pequeno. Antes utilizava o carro, mas agora optou pelos transportes colectivos. “Já adquiri o novo passe este mês. Eu costumava vir de transporte particular. Agora vou poupar bastante em combustíveis, cerca de 100 euros por mês”, explica Pedro, salientando que, além de “uma poupança enorme” é uma medida “bastante benéfica tanto para o ambiente como para as pessoas”.
Na estação do Cais do Sodré, interface da Transtejo, CP, Carris e do Metro de Lisboa, ao início desta manhã, o ambiente é o habitual de uma segunda-feira em hora de ponta. Pessoas chegam e saem, apressando-se para chegar aos locais de trabalho.
Catarina Conceição, de 23 anos, vai comprar o novo passe Navegante Metropolitano no dia 12 de Abril, altura em que termina o passe que ainda tem activo e que lhe permite utilizar o comboio e o metro. “Antes só dava para ir até ao Oriente e na linha de metro de Lisboa e agora vou poder ir até mais longe”, diz. “Pagava 45€ por mês e fazia o percurso da linha de Sintra, Rossio e depois metro dos Restauradores até ao Cais do Sodré. Agora vou fazer 24 anos e vou perder o desconto de estudante mas, mesmo assim, vou poupar cerca de 10€ porque ia pagar 50€ – sem o desconto Sub-23 – e agora vou pagar 40€”, explica Catarina, elogiando o facto de esta medida “ajudar bastante os estudantes e os trabalhadores, principalmente quem não tem transporte privado”.
“Há pouca gente para nos explicar”
No Campo Grande a mudança é mais visível. Pelas 8h16 já se encontram cerca de 30 pessoas na fila para o posto de atendimento. Há quem se queixe de não conseguir carregar os novos passes através do Multibanco e são ainda várias as dúvidas sobre as novas modalidades de passe. “Vou comprar agora o novo passe mas ainda estamos um bocadinho confusas porque, primeiro, não tinha aqui ninguém para me ajudar. Tenho duas opções e não sei bem qual escolher porque são ao mesmo preço e, na máquina, não diz o que é que vão abranger”, explica Helena Moura, de 19 anos, que se encontra junto às máquinas automáticas no Campo Grande com duas amigas.
“Eu pago 27,55€ por mês e costumo ir dos Anjos à Cidade Universitária. Acho que, no máximo, pagarei 30 euros mas gostava que fosse menos. Se abranger mais transportes acho que vale a pena, se não acho que os 27,55€ estava bom”, acrescenta Helena Moura enquanto aguarda pela ajuda de um funcionário do Metropolitano de Lisboa. Segundo a estudante, apesar de acreditar que, no futuro, esta mudança “possa ser boa”, as pessoas ainda têm “bastantes” dúvidas sobre os novos passes únicos: “acho que não foi bem divulgado e depois também há pouca gente para nos explicar”.
Poupar 100€ por mês: “Vou meter numa latinha”
A filha de Susana Martins tem quatro anos e o filho dez anos e, a partir de hoje, deixam de pagar passe. Já Susana possui o Navegante Metropolitano que “carregou há dois dias no multibanco”. Lá em casa, em Belas (Sintra), são cinco pessoas. Antes, Susana e o marido pagavam 60€ cada, agora pagarão 40€. Todos os meses, pagava 185€ pelos passes de todos “mas quando activarem o passe família passa a 80€ tudo”, explica, uma redução de mais de 100€ por mês. Quanto ao dinheiro que poupará “vai meter numa latinha”.
Para outras pessoas, a redução ao final do mês será mais pequena, mas a troca para o novo passe implica outras vantagens. “Agora vou passar para o Navegante Metropolitano que engloba a maior parte de Lisboa e até fora da cidade. Pago 30€ porque sou estudante e antes ficava a 38€ com o desconto Sub-23. Vou poupar cerca de 8€, além de que posso ir muito mais longe do que ia com o passe antigo. Por exemplo, no Verão, posso ir para a praia. O meu passe antigo só dava até à Cruz Quebrada (Oeiras) e aí não há praias. Agora dá para tudo”, diz Rafaela Esteves, de 19 anos.
Maria Pires Domingues, de 50 anos, circula de Campolide para as Amoreiras e pagará menos seis euros ao final do mês. Agradece: “Já não é mau, já dá para um cafezinho”.
“Agora as camionetas vinham à pinha”
Para Maria Elias, de 65 anos, a poupança será maior. Comprou o novo passe Navegante Metropolitano na passada quinta-feira. “Antes pagava 100€ e agora vou pagar 20€”, sublinha a utente que, todos os dias, se desloca da Malveira (concelho de Mafra) para Lisboa. “Ao final do ano gastava 1200 euros” em transportes públicos e agora poupará 80 euros. Esse dinheiro extra “vai ser para poupar, vai ser mesmo para o guardar”. Porém, Maria Elias alerta para “um contra”: “É que agora as camionetas vinham à pinha”. Na manhã desta segunda-feira já notou uma diferença no autocarro que vinha “superlotado”. “A camioneta costumava chegar a Lisboa, por vezes, com 20 passageiros e hoje estava o triplo”, diz. Este é o senão: “Se o metro vier de cinco em cinco minutos ou de seis em seis e, às vezes, de dez em dez e se também vierem poucas camionetas é tudo como sardinha em lata”.
As implicações que a redução dos tarifários poderá ter futuro são também algo que preocupa Maria Miguez, de 66 anos, que costuma deslocar-se da Póvoa de Santa Iria para Moscavide através da CP. Antes, pagava 30€ mensalmente. “Agora, com a nova modalidade, vou passar para o passe que custa 40€ mas, por causa da idade, eu tenho uma redução e então fica a 20€”, explica. Além da diminuição de dez euros, o novo passe “abrange uma área maior”. Mas, ainda assim, está reticente: “Todos nós gostamos de pagar menos, só espero é que este custo mais tarde não venha a ser pago”. “É bom e acho bem, há até países onde é de graça. Mas não sei se estamos preparados. Será que no futuro não vamos pagar a factura?”, questiona.
Na estação do Marquês de Pombal, por volta das 9h, dezenas de pessoas aguardavam na fila, algumas impacientes, para serem atendidas no posto de informação. Luís, de 22 anos, vive na Estrela e trabalha em Belém e encontra-se à espera para “adquirir a modalidade que dá para a Grande Lisboa inteira”.
Luís viveu no estrangeiro durante ano e meio e regressou recentemente para Portugal. “Já tinha que mudar e aproveitei hoje com os novos passes”, diz. Quanto à mudança na rede de transportes públicos, acredita que “tem de ser acompanhada de uma melhoria nos transportes públicos”. “Terá o seu ‘quê’ de medida eleitoral, tendo em conta que vai haver eleições daqui a seis meses, mas eu acho que a medida é boa”, sublinha. Por enquanto – e porque não usava transportes em Portugal há algum tempo – Luís não nota grande diferença, mas afirma: “Estou, de facto, a notar que o metro está ligeiramente mais cheio e, nas redes sociais, tenho amigos meus, que moram fora de Lisboa, a dizerem que aí os transportes públicos estão a ficar muito mais cheios”.
A quantidade de gente e o tempo de espera para o serviço de atendimento do Metropolitano de Lisboa na estação do Marquês de Pombal chegou mesmo a levar um passageiro a pedir o livro de reclamações. Hugo Guerreiro, de 36 anos, era um dos que se encontrava na fila para levantar o novo passe Navegante Metropolitano. “Costumava pagar 70 euros”, explica. Electromecânico de profissão, vem do Cacém (Sintra) e movimenta-se bastante dentro da cidade de Lisboa.
Enquanto aguardava na fila de espera, Hugo Guerreiro chegou mesmo a pedir o livro de reclamações: “Estão ali quatro funcionários, o quarto elemento que não está sentado no atendimento deveria estar a fazer a entrega dos passes em vez de as pessoas estarem na fila a perder tempo só para a recepção do mesmo. Cheguei aqui às 8h20 e estou há quarenta minutos à espera”, explica ao PÚBLICO. “Talvez a minha entidade patronal deva cobrar ao metropolitano esta hora que eu estou aqui a perder em vão”, acrescenta.
Quanto aos novos passes sociais, Hugo Guerreiro acredita que “já vêm tarde porque se os combustíveis aumentam, tem de aumentar a qualidade – e frequência – dos transportes públicos em alternativa”. Porém, salienta que esta segunda-feira não é um bom dia para avaliar a situação actual da rede de transportes públicos em Lisboa “tendo em conta que esteve a chover e há mais gente a utilizar a viatura própria hoje, até porque é princípio do mês”.
Segundo um balanço revelado esta segunda-feira – o dia da entrada em vigor da nova medida do Governo e dos municípios – pelo autarca da capital e presidente da AML, Fernando Medina, existiram mais 70 mil novos pedidos de cartão Navegante, o novo passe único para a Área Metropolitana de Lisboa (AML).
“Sete milhões de pessoas ganharam hoje um direito. Foram vendidos mais 70 mil títulos Navegante em Março de 2019 do que em Março de 2018”, disse Fernando Medina. Grande parte, explicou, “a maiores de 65 anos de idade.