PSD e BE puxam ligações familiares do Governo para a pré-campanha eleitoral

Primeiro foi Paulo Rangel, depois Catarina Martins. As ligações familiares no Governo e no PS entram na ordem-do-dia no discurso político.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

As ligações familiares entre membros do Governo, de gabinetes governamentais e dirigentes máximos do PS entraram este fim-de-semana no discurso político pré-eleitoral. Este domingo, a líder do BE, Catarina Martins, pronunciou-se sobre o assunto. No sábado, foi a vez do cabeça de lista do PSD, Paulo Rangel, apelar ao Presidente da República para agir sobre a situação.

Catarina Martins declarou aos jornalistas em Almada que “deve haver uma reflexão dentro do Governo e no PS” sobre a existência de ligações familiares dentro do Governo e entre este e a cúpula do partido, embora desvalorizasse as críticas que sobre este assunto têm sido feitas por figuras do PSD e em particular Paulo Rangel, considerando que “como a direita está sem projecto, liga sobretudo a casos”.

Advogando que é uma questão de “prática política”, Catarina Martins defendeu: “A democracia precisa de mais espaço para respirar.” E não perdeu a oportunidade que lhe foi colocada pelos jornalistas para criticar o Governo que o seu partido suporta no Parlamento: “Julgo que toda a gente percebe. Eu bem sei que Portugal é um país pequeno, mas todos nós percebemos a necessidade de pensar sobre estas matérias, para que os cargos públicos não sejam ocupados tendencialmente por um grupo de pessoas com muitas afinidades.”

Rangel apela a Marcelo

Por seu lado, no sábado, em entrevista à agência Lusa, divulgada no sábado, o cabeça de lista do PSD, Paulo Rangel, defendeu que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já devia ter avisado o primeiro-ministro para não repetir o que chama de “promiscuidades familiares” no Governo.

Paulo Rangel considerou que o facto de em Portugal as pessoas “não rasgarem as vestes e não se escandalizarem com isto é sinal de uma certa doença e de um adormecimento da democracia” e referindo directamente o Presidente da República, disparou: “Eu acho que aqui o próprio Presidente da República, que desvalorizou o caso, não devia desvalorizar, não é salutar para a democracia.” Lembrando que concretamente os ministros são nomeados pelo Presidente da República, Rangel afirmou que Marcelo “devia ter advertido o primeiro-ministro de que não deveria fazer isso”.

O cabeça de lista do PSD às europeias defendeu que a existência de vários casos de ligações familiares em gabinetes de governantes de António Costa “não é normal e constitui um atentado gravíssimo ao princípio republicano”. E referindo-se aos casos dos ministros Eduardo Cabrita e Ana Paula Vitorino, José Vieira da Silva e Mariana Vieira da Silva, Pedro Nuno Santos e ao secretário de Estado Duarte Cordeiro, ironizou: “No Conselho de Ministros, tem um marido e mulher, um pai e filha. Tem agora uma chefe de gabinete do sucessor do marido, cuja mulher também gere um fundo.”

Rangel lembrou também o caso da eleição de Francisco César para liderar o grupo parlamentar do PS na Assembleia Regional dos Açores, que é filho de Carlos César. E recordou também o caso de António Mendonça Mendes, que é secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e irmão da secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendonça Mendes.

Considerando que “se se tratasse de um caso isolado, não haveria qualquer problema”, Rangel defendeu mesmo que se viesse a aplicar “o Código de Procedimento Administrativo nas reuniões de Governo”, isso “levaria a impedimentos sistemáticos de votações no Conselho de Ministros”.