A actriz britânica Emilia Clarke, conhecida pelo papel de Daenerys Targaryen em A Guerra dos Tronos, revelou nesta quinta-feira que foi submetida a duas cirurgias ao cérebro nos últimos oito anos, devido a dois aneurismas. “Quando os meus sonhos de criança pareciam estar a tornar-se realidade, quase perdi a cabeça e depois a minha vida”, começa por escrever num texto na primeira pessoa, publicado na revista norte-americana New Yorker. Nunca tinha contado a história publicamente, mas diz ser agora o momento de a partilhar, a menos de um mês da estreia da temporada final da série.

Os problemas, diz, começaram em 2011, quando a actriz tinha acabado de filmar a primeira temporada de A Guerra dos Tronos, um sucesso mundial e uma das séries televisivas mais pirateadas de sempre. No artigo, a actriz não traça uma relação directa entre a popularidade da série, o ritmo das filmagens, e os seus problemas de saúde. Mas diz ter ficado “aterrorizada" quando foi escolhida para representar Daenerys Targaryen, um dos principais papéis da série, numa altura em que ainda não tinha grande experiência profissional. “Aterrorizada" pela atenção de que era alvo e por “uma indústria que não entendia”, explica, acrescentando que se sentia muito exposta por aparecer nua em algumas das cenas da série.

Em Fevereiro desse ano, tinha Clarke 24 anos, sentiu uma dor aguda na cabeça depois de fazer exercício físico e disse ter percebido logo que algo de errado se passava. No meio das náuseas e vómitos, foi levada para o hospital e fez uma ressonância magnética. O diagnóstico foi claro: tinha tido um aneurisma, uma ruptura arterial, aquilo a que os médicos chamaram uma hemorragia subaracnoídea (HSA). “Descobri que cerca de um terço das pessoas com HSA morrem de imediato ou pouco depois”. Para tentar evitar um segundo aneurisma, era preciso tratamento. Queriam submetê-la a uma cirurgia cerebral não invasiva. “Cirurgia cerebral? Eu estava num período muito ocupado da minha vida — não tinha tempo para uma cirurgia cerebral”.

Quando acordou, tinha dores insuportáveis e não se lembrava do próprio nome. Mas foi recuperando, e quando as gravações da série recomeçaram, conseguiu acompanhar, apesar do cansaço. Havia momentos em que perdia a esperança e tinha “uma ansiedade terrível, ataques de pânico”. “Nos estúdios não falhava nada, mas esforçava-me muito.”

Com a descoberta de um segundo aneurisma, algum tempo depois, teve de ser operada uma segunda vez. A primeira tentativa de cirurgia não invasiva falhou e foi necessária uma intervenção mais agressiva, que resultou na substituição de partes do seu crânio por placas de titânio. “E sempre com a preocupação de não saber quais as perdas cognitivas ou sensoriais. Seria a concentração? A memória? A visão periférica? Agora digo às pessoas que só me tirou o bom gosto por homens. Mas na altura nada disto tinha piada”.

Quando concorreu ao papel de Daenerys, pensava em si como uma pessoa saudável, apesar de ter algumas quebras de tensão, alguns desmaios – aquilo que agora diz terem sido “sinais de aviso” que acabaram por ser ignorados. Apesar de pensar que ia morrer quando tinha uma dor de cabeça mais forte, admite que recuperou para lá das suas expectativas. E decidiu que iria ajudar os outros e apelar aos donativos para a organização de caridade SameYou, que apoia pacientes que sofram de problemas relacionados com o cérebro.