Ciclone Idai: Governo moçambicano à espera de 400 mil desalojados
Caroline Haga, da equipa da Cruz Vermelha Internacional na Beira, diz que a prioridade da organização neste momento “é salvar vidas”, mas as condições no terreno continuam “muito difíceis”.
O Governo de Moçambique está a preparar condições para albergar 400 mil desalojados por causa da passagem do ciclone Idai pelo centro de Moçambique, que já fez 84 mortos, de acordo com o Presidente Filipe Nyusi, mas cujo balanço trágico deverá ser substancialmente superior.
A informação foi avançada ao PÚBLICO por Caroline Haga, da Cruz Vermelha Internacional, em contacto telefónico a partir da Beira, cidade que foi “90%” danificada ou destruída pelos ventos que chegaram a soprar a 177 km/h e pelas fortes chuvas, de acordo com esta organização.
A equipa da Cruz Vermelha que está no terreno diz que a situação está “muito difícil”, pois duas catástrofes se juntaram numa só: a destruição causada pelos ventos ciclónicos e as inundações comuns da época das chuvas exponenciadas pela forte precipitação acentuada pela passagem da tempestade. “Há locais onde os rios estão vários metros acima do seu habitual nível”, afirmou Caroline Haga.
A prioridade da organização não-governamental “é a de salvar vidas”, mas as condições de deslocação na zona são extremamente penosas, pontes destruídas, deslizamentos de terras, inundações, rios transbordantes com fortes correntes.
“Há pessoas penduradas em árvores rodeadas por água”, conta Haga, numa ligação por WhatsApp marcada por cortes, demonstrativo das dificuldades de comunicação existentes na região, depois de o ciclone ter derrubado grande parte da infra-estrutura de telecomunicações no centro de Moçamboque.
A Cruz Vermelha não tem actualização do número de mortos, mantendo-se nos 84 mortos avançados na segunda-feira pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi. No entanto, tal como disse o chefe de Estado, também esta ONG está a calcular que o número poderá ser muito mais alto.
Entretanto, a Cruz Vermelha Portuguesa identificou centenas de alimentos de longa duração nos armazéns da instituição em Portugal que pretende enviar para a cidade da Beira. Em declarações à agência Lusa, o seu presidente, Francisco George, adiantou que foi emitido um alerta a nível nacional para as reservas de alimentos de longa duração (conservas) para serem recolhidos no caso de ser organizado um voo humanitário para Moçambique.
No entendimento de Francisco George, “todos temos o dever de apoiar as populações da cidade da Beira porque há uma afinidade histórica, secular. “Há muitos portugueses na Beira. Não podemos ignorar esta tragédia que os moçambicanos estão a viver”, disse.