E se uma pessoa numa cadeira de rodas o guiasse num passeio de bicicleta pela cidade?
Para já é só um protótipo de uma solução para que as cadeiras de rodas possam ser acopladas a bicicletas para permitir aos deficientes motores serem guias turísticos nas cidades.
E se o turismo que tanto peso tem na economia nacional criasse também uma oportunidade de emprego para quem, por uma razão ou outra, não se consegue facilmente movimentar? Não se sabe se isso se concretizará, mas estão lançadas as sementes para que isso possa acontecer: Lisboa quer tornar-se pioneira na inclusão de pessoas com mobilidade reduzida e capacitá-las para o trabalho de guias turísticos. Como? Imagine-se uma cadeira de rodas acoplada a uma bicicleta, que seria alugada por quem quer que estivesse de passagem pela cidade. O guia seguiria na cadeira de rodas e começaria assim uma visita por locais turísticos da capital — que tivessem condições de acessibilidade.
Para já é só um protótipo — uma peça fabricada em Espanha que permite que as cadeiras de rodas possam ser acopladas a bicicletas — e foi apresentado esta sexta-feira pela secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, à margem da Bolsa de Turismo de Lisboa que está a decorrer na capital. Para a governante, esta ideia “tem todas as condições para ser concretizada”.
“É uma ideia para Portugal que vê a indústria do turismo como uma prioridade. Uma ideia que pudesse criar uma nova profissão na área turística para pessoas com deficiência motora, que pudesse ser replicada”, diz Edson Athayde, da agência de publicidade FCB Lisboa que desenvolveu este conceito durante cerca de ano e meio.
A ideia surgiu de um “desafio interno” lançado pela empresa para encontrar formas criativas que pudessem incentivar a integração de pessoas com alguma deficiência física, explica ao PÚBLICO o responsável, aproveitando o conhecimento que já tinham de colaborações com o Comité Paralímpico e com o Instituto Nacional de Reabilitação.
Esta é uma forma de colocar o turismo acessível no mapa e no foco dos empresários, sublinha a secretária de Estado do Turismo, uma vez que há, só na Europa, um mercado de 90 milhões de turistas com necessidades específicas de mobilidade e que isso pode ser uma oportunidade. “Agora é preciso reunir as entidades certas para se colocar à disposição do cliente comum, de qualquer turista que passe pelas cidades”, desafia Ana Mendes Godinho que acredita ainda que quer as entidades regionais, quer as câmaras municipais, serão as primeiras a querer implementar este projecto.
Mas é certo que há cidades – ou parte delas – que não são ainda acessíveis a quem tem mobilidade reduzida, reconheceu Ana Mendes Godinho, lembrando que há 20 roteiros acessíveis identificado dentro do país que podem ser consultados no site Visit Portugal.
Na quarta-feira, durante a BTL, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, anunciou o alargamento do Programa Valorizar — que serve, sobretudo, para a capacitação e qualificação do produto turístico — para os 100 milhões de euros. Uma das linhas deste programa é dedicada ao Turismo Acessível, o que significa que quem quiser investir nas “Wheelchange Tours” terá aqui uma linha de financiamento a que poderá concorrer, nota Ana Mendes Godinho.
Será lançado também um guia do projecto que ficará disponível online para que quem quiser aproveitar a ideia saiba como pode fazer: será, por exemplo, aconselhável pôr uma câmara no capacete, ter um smartphone e uns auscultadores para que haja uma comunicação entre quem se desloca em cadeira de rodas – que se transforma em guia turístico - e o turista. Aqui, o Turismo de Portugal estará também a preparar-se para dar formação a todas as pessoas que queiram ser guias nestas bicicletas.
Para Alberto, que serviu de “guia” nesta apresentação, esta é uma oportunidade para quem, como ele, nem sempre tem a vida facilitada no acesso ao emprego. “Há muitos ‘Albertos’ fechados em casa que precisam de trabalhar, que precisam de oportunidades que não lhes são dadas”.