Brexit: Portugal prepara-se para cenário sem acordo que é “hoje mais possível"
Após o chumbo do Acordo de Saída do Reino Unido da União Europeia pelo parlamento britânico, Augusto Santos Silva sublinha que é necessário Portugal estar preparado "para todos os cenários".
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, defendeu esta terça-feira que a principal preocupação de Portugal é prosseguir a preparação para qualquer cenário do “Brexit”, incluindo a ausência de acordo, que “hoje é mais possível” do que ontem.
“Essa é a nossa preocupação número um, continuarmos a prepararmo-nos, seja ao nível dos direitos dos cidadãos, seja ao nível do apoio às nossas empresas, seja ao nível do apoio ao nosso turismo, para o cenário que hoje é mais possível do que era ontem de um “Brexit” sem acordo”, sustentou Augusto Santos Silva em declarações à Lusa.
Após o chumbo do Acordo de Saída do Reino Unido da União Europeia pelo parlamento britânico, o chefe da diplomacia portuguesa sublinhou que “é cada vez mais claro quão importante” é o país estar preparado “para todos os cenários, incluindo um cenário de uma saída do Reino Unido sem acordo”. “Ao mesmo tempo, estarmos e continuarmos disponíveis para dar o nosso acordo para todas as iniciativas que sejam necessárias do lado europeu para que o Reino Unido possa operar a saída da União Europeia da forma mais organizada e ordeira possível”, afirmou.
Para Santos Silva, “o pior dos cenários é a saída sem qualquer acordo, por isso, tudo o que contribua para evitar esse cenário terá o apoio de Portugal”. “Seja coordenadamente em Bruxelas, seja em cada um dos parlamentos nacionais, criamos e aplicamos planos de contingência para evitar que no dia 29 de Março houvesse qualquer espécie de ruptura, nos transportes aéreos, na circulação das pessoas e por aí fora”, vincou.
Questionado sobre o efeito de possíveis eleições antecipadas nas negociações – um pedido feito pelo líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn –, Augusto Santos Silva referiu que essa matéria é do domínio da “política interna britânica”.
A União Europeia ficou decepcionada com o chumbo do Acordo de Saída do “Brexit” no parlamento britânico, mas revelou que os 27 estão disponíveis a considerar um adiamento da saída do Reino Unido, consoante os motivos evocados por Londres. “Lamentamos o desfecho da votação de hoje e estamos decepcionados por o Governo britânico não ter conseguido assegurar a maioria necessária para aprovar o Acordo de Saída firmado entre as partes em Novembro”, pode ler-se num comunicado veiculado, quer pela Comissão Europeia, quer pelo Conselho Europeu, minutos após o novo chumbo do texto na Câmara dos Comuns.
Na nota, a que a Agência Lusa teve acesso, a UE vinca que fez “tudo o que podia para ajudar a primeira-ministra a garantir que o Acordo – que ela negociou e firmou com a UE – fosse ratificado”. O parlamento britânico voltou a chumbar esta terça-feira o Acordo de Saída do Reino Unido da União Europeia (UE), com 391 votos contra e 242 votos a favor.
O texto chumbado esta terça-feira na Câmara dos Comuns incluía garantias adicionais em relação à versão rejeitada em Janeiro, de que o mecanismo para evitar uma fronteira na Irlanda do Norte não seria uma solução permanente. Após a votação desta noite, a primeira-ministra britânica, Theresa May, repetiu que este acordo era “o único e, por isso, o melhor acordo possível”.
Os deputados britânicos votarão agora na quarta-feira sobre se o Reino Unido deverá sair da UE sem acordo na data marcada, 29 de Março, ou se há-de pedir a Bruxelas um adiamento da saída. O principal ponto de discórdia sobre o Acordo de Saída negociado com Bruxelas é a solução de último recurso para a fronteira irlandesa, comummente conhecido por backstop, e que os eurocépticos rejeitam por deixar o país “indefinidamente” numa união aduaneira.
O backstop prevê a criação de “um espaço aduaneiro único” entre a UE e o Reino Unido, no qual as mercadorias britânicas teriam “um acesso sem taxas e sem quotas ao mercado dos 27” e que garantiria que a Irlanda do Norte se manteria alinhada com as normas do mercado único “essenciais para evitar uma fronteira física”. Esta solução de último recurso só seria activada caso a parceria futura entre Bruxelas e Londres não ficasse fechada antes do final do período de transição, que termina a 31 de Dezembro de 2020. A qualquer momento após o final do período de transição, a UE ou o Reino Unido podem considerar que o mecanismo já não é necessário, mas a decisão terá que ser tomada em conjunto.