Guerra entre Índia e Paquistão à distância de um erro de cálculo

Depois de ter abatido dois aviões indianos, Islamabad apelou ao “bom senso” para que se evite um conflito em larga escala e pediu diálogo.

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Jornais paquistanes com manchetes em tom belicoso SHAHZAIB AKBER/EPA
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Discurso do primeiro-ministro paquistanês Imran Khan na televisão ARSHAD ARBAB/EPA

A tensão entre a Índia e o Paquistão em torno da região de Caxemira atingiu máximos históricos e aproximou as duas potências nucleares de um conflito aberto. O Paquistão abateu dois aviões da Força Aérea indiana, que respondiam a bombardeamentos de algumas das suas posições. Com o confronto à vista, os responsáveis políticos dos dois países deixaram apelos à contenção.

Há vários dias que os dois países que no passado entraram três vezes em guerra estavam envolvidos numa perigosa dinâmica de provocação e contraprovocação, aumentando sempre a intensidade das suas acções. A Força Aérea do Paquistão dirigiu uma série de bombardeamentos contra seis alvos em “espaços abertos” na região de Caxemira sob administração indiana, garantindo ter tido o cuidado de evitar perdas humanas e danos colaterais. "O único objectivo foi demonstrar o nosso direito, vontade e capacidade para nos defendermos", explicou o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Islamabad respondia ao bombardeamento feito pela Índia na véspera contra posições de um grupo terrorista que actua a partir do Paquistão, o Jaish-e-Mohammad (exército de Maomé), que defende a integração de Caxemira no Paquistão, e que as autoridades indianas responsabilizam por um atentado terrorista na Caxemira indiana a 14 de Fevereiro, em que morreram 44 polícias. Há anos que Nova Deli acusa as autoridades paquistanesas de tolerarem e protegerem grupos terroristas islâmicos como este.

A Índia ripostou à ofensiva paquistanesa enviando aviões da Força Aérea para o espaço aéreo do país vizinho, dois dos quais acabaram por ser abatidos. O Governo indiano confirmou a perda de um dos seus aviões, exigiu a libertação imediata do seu piloto e desmentiu a versão paquistanesa, dizendo que os bombardeamentos atingiram “instalações militares”.

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As reivindicações em torno de Caxemira motivaram duas guerras, em 1947 e 1965, entre as duas antigas colónias britânicas, e um curto conflito em 1999. Desde então, os conflitos entre os dois países resumiram-se a escaramuças ao longo da linha de contacto. Nas últimas duas décadas, Índia e Paquistão desenvolveram armas nucleares e evitaram transformar as crises fronteiriças em guerras de larga escala.

 “Bom senso”

Em Nova Deli e Islamabad, os dirigentes políticos fizeram apelos à calma, sublinhando que a diferença entre a paz e a guerra poderá ficar definida nas suas próximas acções. O primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, pediu "bom senso" para que seja evitada uma guerra e mostrou-se disponível para entrar em diálogo com as autoridades indianas. "Todas as guerras são erros de cálculo, e ninguém sabe para onde se encaminham", afirmou durante uma conferência de imprensa.

Khan assegurou que a ofensiva levada a cabo pela Força Aérea serviu apenas para demonstrar as capacidades militares do país. "A nossa acção teve como objectivo mostrar que se vocês podem entrar no nosso país, nós podemos fazer o mesmo", disse Khan, dirigindo-se à Índia. “A partir daqui, é imperativo usarmos as nossas cabeças e agir com sabedoria.”

Poucas horas depois do abate dos aviões, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, reuniu-se com as chefias do aparelho de segurança e serviços secretos do Estado, de acordo com o jornal Hindustan Times. Neste jogo de parada e resposta, a próxima jogada vai caber ao líder indiano, que enfrenta eleições legislativas em Maio e tem alimentado o nacionalismo hindu como um dos alicerces do seu apoio popular.

A ministra dos Negócios Estrangeiros indiana, Sushma Swaraja, afirmou que o seu país pretende agir “com responsabilidade e contenção” e que não deseja “aumentar mais a tensão da situação”. Swaraja fez as declarações depois de se ter reunido com os homólogos da China e da Rússia, segundo a BBC.

Um pouco por todo o mundo, as mensagens seguiram no mesmo sentido. O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse ter falado com os chefes da diplomacia dos dois países e pediu-lhes para “darem prioridade à comunicação directa para evitar mais actividade militar”.

A chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, pediu à Índia e ao Paquistão para mostrarem a “máxima contenção” e alertou para “as consequências graves e perigosas”, caso os ânimos continuem inflamados. A China e a Rússia fizeram apelos semelhantes.

Para já, o principal impacto dos confrontos em Caxemira fizeram sentir-se no ar. O espaço aéreo paquistanês foi encerrado durante algumas horas, quando a maioria das companhias comerciais estava já a evitar circular sobre a região, com receio dos bombardeamentos. Oito aeroportos no Norte da Índia também estiveram temporariamente fechados.

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