De Odivelas a Telheiras, cresce a oposição à linha circular no Metro de Lisboa
Cidadãos de Odivelas não querem perder uma ligação directa ao centro de Lisboa e propõem uma linha em loop, uma circular que não se fecha.
Com o concurso público para a construção de uma linha circular já lançado, em Odivelas e Telheiras há quem não atire a toalha ao chão e queira ainda travar a expansão que o Metro de Lisboa se prepara para fazer. Grupos de cidadãos têm-se mobilizado nas últimas semanas para recolher assinaturas contra o plano e querem forçar a Assembleia da República a debruçar-se novamente sobre o tema.
A expansão anunciada pela administração do metro, com o apoio do Governo e da câmara de Lisboa, vai encurtar a linha amarela, que passará a ligar apenas Odivelas a Telheiras, enquanto as estações a sul do Campo Grande integrarão a linha circular. Em ambas as pontas da futura linha amarela teme-se que esta proposta traga mais problemas do que benefícios.
“Os malefícios são mais que muitos”, considera Paulo Bernardo e Sousa, um dos impulsionadores do movimento Contra o Fim da Linha Amarela, que pôs a correr em Odivelas um abaixo-assinado a entregar aos partidos com assento parlamentar. Paulo está sobretudo preocupado com a perspectiva de, em 2023 ou 2024, quando a linha circular for uma realidade, os passageiros que saem de Odivelas, Senhor Roubado, Ameixoeira, Lumiar e Quinta das Conchas terem de trocar de linha no Campo Grande se quiserem aceder a Entrecampos, Saldanha ou Marquês de Pombal.
“Está estudadíssimo que a necessidade de transbordo faz perder 30% dos passageiros”, diz Bernardo e Sousa, antevendo que o metro vai deixar de ser atractivo para muita gente do concelho de Odivelas, que preferirá ir de carro até ao Campo Grande e aí entrar num transporte público. Ou, então, que se vai gerar um caos nas horas de ponta. “Imagine-se um comboio de seis carruagens, cheio de gente, a despejar todas as pessoas na estação do Campo Grande. Não há capacidade”, diz.
O movimento Contra o Fim da Linha Amarela não se opõe à união das linhas no Cais do Sodré, mas não quer que Odivelas perca a ligação directa ao centro de Lisboa. Por isso apresenta “uma solução que satisfaz toda a gente”, nas palavras de Paulo Bernardo e Sousa. A proposta consiste em construir uma linha em loop que não feche o círculo no Campo Grande. Criavam-se estações na Estrela e em Santos, como previsto, mas já não se construíam os viadutos projectados para o Campo Grande. Ou seja, passaria a ser uma linha com início e fim em Odivelas e Telheiras, cujos passageiros não teriam necessidade de transbordo.
Esta proposta é subscrita pelo Senado de Odivelas, uma associação cívica que também se opõe ao traçado proposto pela empresa e pelo Governo. “Se isto acontecer vão criar imensos problemas na Calçada de Carriche”, alerta Jorge Mendes, um dos membros do Senado, prevendo um aumento do tráfego rodoviário em vias que estão já hoje sobrelotadas.
Ambos os movimentos crêem que há ainda muito desconhecimento entre as gentes de Odivelas. “Sou professor, coloquei o abaixo-assinado na minha escola e grande parte dos meus colegas vem de Lisboa. Ficaram todos indignados, até me vieram perguntar se aquilo era verdade”, relata Jorge Mendes, que diz que “as pessoas só agora começam a ter consciência do problema”. Também Ilda Tojal, uma das promotoras da iniciativa Contra o Fim da Linha Amarela, conta que sempre que aborda pessoas para que assinem o abaixo-assinado, ouve reacções de surpresa: “Que maçada, isto vai-me transtornar imenso a vida!”
Segundo dados que o Metro de Lisboa forneceu ao PÚBLICO no ano passado, as estações da linha amarela a norte do Campo Grande registaram, em 2017, quase 19 milhões de movimentos de passageiros. Este é um dos argumentos apresentados pelos cidadãos de Odivelas, que além do abaixo-assinado – apoiado por três juntas de freguesia daquele concelho – têm também a correr, na internet, uma petição pública com cerca de 4000 assinaturas. A que se soma uma outra petição, lançada por cinco individualidades ligadas à mobilidade, neste momento com cerca de 1600 subscritores.
Se para os peticionários o transbordo no Campo Grande é problemático, o presidente do Metro diz que não e contra-argumenta com a necessidade de tirar carros do centro de Lisboa. “O transbordo é um falso problema, é uma falácia. As pessoas que vêm do Barreiro não têm um transbordo? As pessoas que vêm de Cascais não têm um transbordo? A maioria dos veículos vem da A2, da A5”, disse Vítor Santos numa recente reunião na Assembleia Municipal de Lisboa.
Também em Telheiras se olha com apreensão para os planos do metro. “A concretização da linha circular é contrária aos interesses dos moradores do Lumiar e de Telheiras. Além de as transformar em zonas periféricas, compromete projectos de expansão da rede, consolidados há décadas, muito mais prementes e racionais”, afirma Manuel Silva, que, com outros vizinhos, tem tentado opor-se à futura linha amarela e preferia ver um prolongamento de Telheiras à Pontinha.
A ligação de Telheiras à linha azul (ao Colégio Militar e não à Pontinha) é um dos projectos que o presidente do metro tem para o futuro, mas só depois de concluída a linha circular e a extensão da linha vermelha às Amoreiras e Campo de Ourique.
Depois de a CDU ter organizado uma sessão sobre o metro no Lumiar, Manuel Silva e os vizinhos estão a tentar promover um debate apartidário, envolvendo defensores e opositores da linha circular. Ainda não tem data marcada. Entretanto, no Parlamento, o PCP apresentou um projecto de resolução com vista a travar o plano já aprovado.
O metro espera ter obras a andar no segundo semestre do ano.