Gestão do risco: na estratégia e na condição física
Foram preocupações distintas aquelas que nortearam as escolhas de Bruno Lage e de Marcel Keizer para o primeiro round das meias-finais da Taça de Portugal. Do lado do Benfica, a prioridade foi não trair a ideia de jogo apresentada no derby de domingo, mesmo correndo o risco de o balão de oxigénio esvaziar um pouco mais cedo. Do lado do Sporting, imperou a gestão da condição física, com uma mão-cheia de alterações, assumindo o técnico holandês o ónus de a equipa se tornar menos incisiva nas transições ofensivas.
Sem Bas Dost no “onze” inicial, os “leões” descartaram praticamente o cenário de um futebol mais directo, a procurar ganhar a primeira ou segunda bola na tentativa de contornar a pressão imposta pelo rival. Na prática, o único dividendo que conseguiram retirar dessa opção foi reduzir o risco de perda, porque a circulação lenta e previsível em zonas muito recuadas não foi suficiente para superar o posicionamento agressivo do Benfica e sair a jogar apoiado a partir de trás.
Com Pizzi desta vez a começar na ala esquerda (Salvio ocupou o flanco contrário), foi por essa faixa que o Benfica construiu o seu futebol mais associativo, porque o argentino confere sempre um perfil mais vertical ao jogo e porque João Félix, muito vigiado, perdeu quase todos os duelos individuais no lado oposto. Mas seria pela direita que os “encarnados” chegariam ao primeiro golo, tirando partido da deficiente transição defensiva do Sporting, que continua sempre muito exposto em ataque organizado (no caso, era o estreante Cristián Borja que estava muito profundo).
Outra das fragilidades dos “leões” continua a ser a forma como se deixam atrair, em “quantidade”, para a zona da bola, facilitando a tarefa a um adversário que, sob a orientação de Bruno Lage, tem hoje muito mais capacidade de variar o centro do jogo e de ir alternando passes verticais, à procura das ligações no corredor central, com jogadas à largura (sem que o cruzamento seja a opção inevitável).
Ofensivamente, a opção por adiantar Wendel para as costas de Luiz Phellype também só surtiu efeito a meio do segundo tempo, altura em que se percebeu que Ferro (lançado na primeira parte para render o lesionado Jardel) ainda terá arestas a limar. Até então, as linhas de passe que o médio brasileiro tentava dar a Gudelj, Borja ou Bruno Fernandes rapidamente se transformavam de uma oportunidade numa debilidade, porque a pronta recuperação e a transição activada pelo Benfica deixavam muitas vezes o rival com um elemento a menos no corredor central (fruto, também, dos movimentos de Pizzi de fora para dentro).
Se as entradas de Cervi (de um lado) e de Bas Dost (do outro) também não lançaram o jogo noutras bases, ainda que o Sporting nos últimos minutos tenha procurado um futebol mais directo, Diaby conseguiu tirar algum partido do desgaste acumulado nos corredores laterais dos “encarnados”, também num período em que a intensidade da pressão de Samaris e Gabriel tinha caído a pique.
Mas seria o génio individual de Bruno Fernandes a relançar a eliminatória. Um jogador valioso, que oferece muito a um Sporting que continua a saber a pouco.