Reciclar como o Gervásio não chega. Para onde vão os CD e as escovas de dentes?
Separar as embalagens para o ecoponto, como o Gervásio ensinava no anúncio da Sociedade Ponto Verde, não é suficiente. Há um mundo por descobrir na separação de resíduos e uma nova aplicação da Quercus que quer ajudar a pôr o lixo no sítio certo: a Wasteapp.
Cada português produz uma média de 1,32 quilos de lixo por dia e apenas cerca de 200 gramas vão para os contentores amarelos, verdes ou azuis. E o resto? A Wasteapp é uma aplicação que ajuda a encontrar o lugar certo para deitar fora o que não cabe no ecoponto tradicional. É lançada este sábado, 2 de Fevereiro, pela Quercus e pode ser consultada através do site ou descarregada gratuitamente para os dispositivos iOS e Android.
O utilizador pode pesquisar por uma palavra específica ou navegar num menu onde estão as várias opções disponíveis. Estão identificadas cerca de 50 tipologias diferentes de resíduos, como panos de limpeza, telemóveis, discos e escovas de dentes, mas o objectivo é esta lista ir crescendo à medida que forem identificadas novas necessidades. Escolhido o resíduo, a aplicação mostra, de acordo com a localização do utilizador, qual o sítio mais próximo para fazer a entrega ou os contactos das entidades responsáveis pela recolha do mesmo.
A ideia para a aplicação partiu de uma necessidade identificada pela associação ambiental Quercus. “As pessoas não sabem o que colocar no ecoponto e não sabem onde colocar os resíduos”, explica Carmen Lima, coordenadora para os resíduos da Quercus, em conversa telefónica com o P3.
A rede de recolha está mais próxima dos grandes centros urbanos, mas Carmen Lima salienta que quem estiver mais afastado pode entrar em contacto com os ecocentros e combinar com eles uma recolha dos resíduos, no caso de o volume o justificar. Pode ser útil, por exemplo, no caso de uma limpeza de uma garagem.
Portugal produz anualmente 4,75 milhões de toneladas de resíduos urbanos. Apenas 16,5% destes resíduos são colocados nos ecopontos. A separação que é feita no lixo indiferenciado faz com que a taxa de reciclagem fique nos 38%. Mas o país comprometeu-se a reciclar 50% dos resíduos urbanos até 2022 e 65% até 2035.
Consumidores podem pagar mais se não separarem
Para atingir estas metas, a separação destes resíduos na origem é essencial. “Se não separarmos em casa, não conseguimos depois separar do lixo”, sublinha Carmen Lima. Há também consequências económicas: “Quanto menos separamos, mais vamos pagar”.
Desde 2007 que os portugueses pagam com a factura da água uma taxa de gestão de resíduos que é “directamente proporcional ao que não separamos”. Se, para cumprir as metas, tiverem de ser mobilizados mais recursos para separar o lixo, Carmen Lima não tem dúvidas de que isso se vai reflectir nesta taxa.
A responsável da Quercus rejeita o mito de que o tratamento do lixo seja um “negócio próspero” e que a separação do mesmo em casa possa significar lucros maiores para as empresas que tratam dos resíduos. Pelo contrário, argumenta, é uma área que implica custos elevados: “Há a compra do ecoponto, do camião, os custos com os trabalhadores, um circuito de recolha, uma triagem que precisa de ser feita.” As sucatas e o tratamento de metais poderão ser mais rentáveis mas mesmo este mercado é muito “volátil”.
Para desenvolver a Wasteapp, a Quercus fez um levantamento de todos os ecocentros do país e das necessidades de reciclagem. Neste processo já foram identificadas algumas falhas: não há, por exemplo, um destino para as seringas utilizadas em ambiente doméstico. “Há um milhão de diabéticos em Portugal e muitas pessoas fazem tratamentos em casa. Estas seringas vão muitas vezes parar às nossas praias.”
A associação alertou as entidades oficiais no sentido de encontrar uma resposta para esta situação. O mesmo pode acontecer com outros exemplos que forem reportados pelos utilizadores da Wasteapp. “Se houver outro resíduo que ainda não identificámos, vamos fazer diligências para encontrar uma resposta para o mesmo.”