2018 foi o ano em que nos revoltámos contra o plástico. Cientistas, governos, políticos, empresas, comunidades, consumidores: desde o virar do século que uma campanha ambiental global não reunia em tão pouco tempo tantos apoiantes e despertava tanto interesse público, dizia ao P3 Will McCallum, responsável para os oceanos na Greenpeace do Reino Unido, em Setembro. Por aqui, criámos a hashtag #p3_antiplastico para nos ajudares a denunciar os piores exemplos e a valorizar os melhores. Em Dezembro, voltámos a ela. Fomos partilhando as tuas dicas e agora deixamos as nossas. Feliz Ano Novo.
1. Palhinhas para que vos quero?
Em 2018, a União Europeia chegou a acordo para proibir os cotonetes, talheres de plástico e as palhinhas de plástico a partir de 2021. Mas porque não começar uns anos mais cedo? Não só em casa, mas também no café da rua, ou no teu bar favorito. A Straw Patrol, um movimento criado por uma bióloga portuguesa, criou uma simpática carta modelo que podes enviar por email para sensibilizar cafés, bares e restaurantes a abandonarem as palhinhas de plástico — ou a implementarem uma política de palhinha por pedido, já que há pessoas que não podem beber de outra forma. Mas mesmo na maior parte destes casos, há opções biodegradáveis ou, melhor ainda, reutilizáveis.
2. Lava menos vezes a roupa. E compra menos roupa
Para o início da época de saldos propomos-te um leve 2 pague 1 diferente: poupa a carteira e o ambiente e não compres roupa. As fibras da roupa sintética — isto é, feita de plásticos como o nylon, acrílico e o poliéster – formam um terço dos microplásticos encontrados nos oceanos, rios e lagos uma vez que ao contrário do algodão, do linho, do cânhamo e da lã, por exemplo, não são biodegradáveis. Em época de camisolões e roupa polar, o Guppy Friend, um saco alemão que custa 30 euros, promete proteger as roupas durante a lavagem e “filtrar as poucas fibras que realmente partem” e se libertam dos tecidos sintéticos. Se esta não é uma despesa a considerar no orçamento, opta por lavar menos vezes as roupas, enche a máquina na capacidade máxima e escolhe um programa mais curto e com temperaturas mais baixas. Relembrámos que 2018 foi o ano em que, pela primeira vez, um estudo exploratório quantificou e caracterizou microplásticos encontrados em fezes humanas. E os resultados não são animadores.
3. Reduzir, rejeitar, reutilizar e só depois reciclar
O ecoponto não é uma caixa mágica que transforma tudo o que lá deitámos em algo novo. As garrafas de água, por exemplo, não voltam a ser transformadas em garrafas de água da mesma qualidade, uma vez que ao contrário do vidro, o plástico vai-se deteriorando ao longo do processo de reciclagem. Portugal está alinhado com a média europeia na taxa de reciclagem de resíduos de plástico (42%), mas apresenta a pior taxa no papel e cartão (70%) e a terceira pior no vidro (58%), segundo dados do Eurostat referentes a 2016. Simplesmente não conseguimos reciclar todo o lixo que produzimos.
Solução possível, para já: fazer menos lixo. O projecto Factura sem papel vai arrancar no início do próximo ano, mas cada empresa terá liberdade de decidir se quer ou não aderir — e quando — à nova iniciativa do fisco. E, em última instância, são os consumidores que decidem, em cada compra, se querem a factura em papel. Também quando vais ao supermercado podes optar por colocar a fruta e os vegetais num saco plástico. Propomos que te lembres de recusar tudo isto na altura da compra e que fales com a tua loja ou supermercado sobre a quantidade de resíduos que acompanham o que realmente queres comprar. A melhor forma de reduzir o lixo é não chegar sequer a levá-lo para casa (descobre aqui como fazer compras sem plástico). Inspira-te no grupo Lixo Zero Portugal, de Ana Milhazes.
4. Adeus caixote de lixo, olá compostor
Em seis meses, há mais 900 casas com um compostor doméstico em Lisboa. O objectivo do Projecto Lisboa a Compostar é subir este número para quatro mil famílias, só em Lisboa, já em 2020. Os compostores são maiores do que um caixote do lixo, e não ficam normalmente dentro de casa, mas ocupam pouco espaço no exterior (à sombra no Verão e ao sol no Inverno). A Lipor — responsável pelo Sistema Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto — pretende alargar a recolha porta a porta de resíduos orgânicos e recicláveis a mais 80 mil fogos até ao final de 2019.
Para quem quiser aprender a compostar, a Revolução das Minhocas, projecto de Pierre Del Cos, realiza frequentemente workshops sobre vermicompostagem (compostagem com minhocas) em várias zonas do país. Principais benefícios: “além de reduzir a pegada ecológica do lixo, produzem fertilizantes naturais para cultivar alimentos saudáveis”. Pensa nisto: por dia, cada habitante produz 481 gramas de biorresíduos. 179 quilos por habitante por ano. Está na altura de começar a pensar em reduzir e reciclar também o lixo orgânico.
5. E talvez a maior mudança: comer menos carne (sobretudo de porco e de vaca)
Em Outubro, investigadores avisaram que uma redução muito significativa na quantidade de carne de vaca e de porco ingerida por pessoa podia ser a melhor forma de diminuir as alterações climáticas, de uma vez só. Em percentagens: no Ocidente, o consumo de carne de vaca e de porco teria de diminuir 90 por cento, sendo substituído por cinco vezes mais feijões e leguminosas do que as que actualmente chegam ao nosso prato. Menos de 300 gramas de carne vermelha por semana. Isto para que seja possível alimentar, em 2050, uma população mundial de dez mil milhões de pessoas mantendo o aumento da temperatura da Terra abaixo dos dois graus celsius. Além do estudo que analisou o impacto do sistema alimentar no ambiente para chegar a estas conclusões (disponível online na Nature, em inglês, aqui), propomos-te a série do PÚBLICO sobre alimentação sustentável nas cidades e de duas entrevistas sobre o consumo de carne: Por detrás da “máscara” da indústria pecuária, esconde-se A Vaca que Não Ri e Porque é que não comemos cães?. Aqui está uma nova palavra para 2019: “flexitário” (um vegetariano em regime flexível).