Guaidó quer protesto "em todo o mundo" para pressionar União Europeia

EUA avisam Nicolás Maduro que a "intimidação" do seu pessoal diplomático terá uma "resposta significativa". UE prepara-se para reconhecer Juan Guaidó como Presidente interino.

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Juan Guaidó é o presidente da Assembleia Nacional venezuelana LUSA/Miguel Gutiérrez

Juan Guaidó, o líder da Assembleia Nacional venezuelana que assumiu as funções de Presidente interino, apelou à realização de uma manifestação "em todo o mundo", no sábado, na véspera de um anúncio que pode ser determinante para o futuro da situação na Venezuela. Se Nicolás Maduro não convocar novas eleições até ao próximo domingo, a União Europeia poderá deixar de o tratar como Presidente, à semelhança do que já aconteceu com Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e outros países.

Esta segunda-feira, Guaidó anunciou no Twitter quais as "próximas manifestações e acções pacíficas" contra o Governo de Maduro, repetindo as exigências que tem vindo a fazer. "A união das nossas vozes é a chave para continuarmos a avançar no caminho que traçámos: o fim da usurpação, um Governo de transição e eleições livres", disse Guaidó.

Para sábado está marcada uma manifestação, "não apenas em todo o território nacional, mas em todo o mundo", com o objectivo declarado de "apoiar a União Europeia no seu ultimato ao usurpador".

No fim-de-semana, a União Europeia (UE) exigiu ao Governo venezuelano que convoque eleições "nos próximos dias", sem avançar uma data específica. Se isso não acontecer, os 28 vão "reconhecer a liderança do país em linha com o artigo 233 da Constituição venezuelana", juntando-se aos outros países que já reconheceram Juan Guaidó como Presidente interino.

Numa declaração à parte, também no sábado, Portugal e outros cinco países da UE (Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Holanda) deram oito dias a Maduro para marcar eleições –​ um prazo que termina no domingo.

Novo apelo ao Exército

Para além de marcar um protesto para o próximo sábado, a principal figura da oposição na Venezuela pediu aos seus apoiantes que se manifestem já esta quarta-feira com uma paralisação de duas horas, entre as 12h e as 14h.

O objectivo é voltar a dizer aos militares que podem virar-se contra Nicolás Maduro sem recear pelo seu futuro: "Vamos levar a mensagem de amnistia às Forças Armadas da Venezuela e exigir que cumpram a Constituição e a vontade do povo para permitirem a entrada de ajuda humanitária", disse Guaidó.

Na semana passada, o ministro da Defesa da Venezuela, o general Vladimir Patiño, fez saber que as lideranças militares do país apoiam o Presidente Nicolás Maduro e afirmou que a proclamação de Guaidó como Presidente interino é "um golpe de Estado contra a Constituição".

Há sinais de que alguns soldados e oficiais de baixa patente estão dispostos a depor Maduro. E no domingo houve uma primeira deserção no topo da hierarquia: o representante militar da Venezuela nos EUA, o coronel José Luis Silva, deu o seu apoio a Guaidó. A oposição acredita que a pressão internacional e a garantia de uma amnistia acabem por convencer a maioria dos generais a retirarem o seu apoio a Nicolás Maduro.

Mais avisos e pressões

Essa pressão internacional intensificou-se esta segunda-feira, depois de os EUA terem reconhecido o opositor Carlos Vecchio como encarregado de negócios da Venezuela. Vecchio foi nomeado por Juan Guaidó e é agora o principal interlocutor de Washington sobre questões diplomáticas.

"Os EUA esperam com interesse trabalhar com o senhor Vecchio e com o pessoal diplomático designado pelo Presidente interino", disse o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo.

Da Casa Branca saiu também mais uma ameaça, contra a "intimidação" do pessoal diplomático norte-americano. Segundo o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, quaisquer "ameaças" contra norte-americanos – mas também contra Guaidó ou a Assembleia Nacional venezuelana – terá "uma resposta significativa".

A situação política na Venezuela tornou-se insustentável na semana passada, quando o Presidente norte-americano, Donald Trump, reconheceu o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, como Presidente interino do país. Depois disso, muitos outros países tomaram a mesma decisão, incluindo Canadá, Reino Unido, Austrália, Israel e vários países da América Latina. Do outro lado, em apoio a Maduro, destacam-se Rússia, China e Turquia.

Guaidó e os seus apoiantes acusam Maduro de ter "usurpado" o poder presidencial na Venezuela ao tomar posse, no dia 10 de Janeiro, como Presidente do país. Nicolás Maduro foi eleito em Maio de 2018 para um novo mandato de seis anos, numas eleições boicotadas pela maioria da oposição e "sem legitimidade democrática", segundo a União Europeia e os EUA.

Como presidente da Assembleia Nacional, Guaidó foi proclamado Presidente interino da Venezuela em Janeiro. Invocando a Constituição, o Parlamento considerou que o país não tinha Presidente e, por isso, nomeou o seu líder como chefe de Estado interino.

Ao mesmo tempo, Nicolás Maduro diz que tem toda a legitimidade para se manter no poder porque a comissão nacional de eleições – cuja presidente, Tibsay Lucena, é alvo de sanções dos EUA – validou as eleições de 2018. E o Supremo Tribunal venezuelano, com uma maioria de juízes nomeados pelo seu Governo, esvaziou a Assembleia Nacional de quaisquer poderes legislativos em 2017.

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