Venezuela: Jerónimo condena seguidismo de Governo a Trump e "extremista" Bolsonaro
Líder do PCP defende que o Executivo de António Costa devia evitar a "ingerência irracional" na política interna venezuelana de forma a "defender o interesse" da grande comunidade lusa que vive no país.
O secretário-geral comunista condenou o "seguidismo" do Governo português, lamentando que esteja ao lado dos Presidentes norte-americano e brasileiro, respectivamente Donald Trump e Jair Bolsonaro, quanto à crise política na Venezuela.
"O Governo português deveria, à luz do interesse nacional, respeitar a soberania, cuidar dos interesses da nossa comunidade na Venezuela, num quadro de não-acompanhamento daquilo que são as provocações, a ingerência irracional", disse Jerónimo de Sousa ao início da tarde desta segunda-feira, à margem de uma reunião do PCP com "Os Verdes" na sede ecologista, em Lisboa.
"Aliás, fico surpreendido. Como é que havia cá tanto democrata que criticava o [Presidente] Trump, que era mais ou menos considerado um maluco, e o [Presidente] Bolsonaro, que era um extremista de direita. E, de repente, tanta gente a seguir aquilo que são as orientações por parte, particularmente, de Trump", afirmou, em tom irónico.
Para o líder comunista, "a melhor forma de defender o interesse" da comunidade lusa na Venezuela é "respeitar as decisões soberanas do povo venezuelano, não tomar partido ao lado daqueles que, claramente, por imposição, não querem uma solução onde a soberania seja exercida".
"Criticamos o seguidismo que o Governo português tem tido. Estou sempre de acordo com aquilo que o povo determinar e decidir. Estão no seu direito. O primeiro princípio que o Governo português devia respeitar era, no essencial, procurar, por via diplomática e da intervenção, deixar que o povo decida, mas cuidando sempre dos direitos e estabilidade dessa nossa comunidade de milhares de portugueses na Venezuela", disse.
A Venezuela enfrenta uma crise política que já levou vários países europeus, incluindo Portugal, a lançarem um ultimato ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, para convocar eleições no prazo de uma semana. Caso Maduro não o faça, Portugal, Espanha, Alemanha, França e Reino Unido vão reconhecer Juan Guaidó, presidente do Parlamento venezuelano, como chefe de Estado interino, com poder para conduzir o processo eleitoral.
Entretanto, o autoproclamado Presidente interino da Venezuela convocou para sábado uma grande manifestação nacional e internacional de apoio à União Europeia e ao ultimato dado ao Presidente Nicolás Maduro para convocar eleições livres no país.
As Forças Armadas Bolivarianas da Venezuela realizaram no domingo manobras militares preparatórias para os Exercícios "Bicentenário de Angostura" 2019, que vão ter lugar entre 10 e 15 de Fevereiro em várias regiões do país. "Venho dizer aos soldados da minha pátria que é tempo de mostrar força moral, de defender a pátria e a Constituição bolivariana; é tempo de lealdade, de união cívico-militar", disse Maduro, aos militares, em Puerto Cabello.