Brumadinho
É humano, estupidamente humano, preocuparmo-nos mais com um bebé caído num poço do que com centenas de brasileiros desaparecidos.
A ganância e a incúria andam sempre juntas. Estão sempre a morrer pessoas por causa delas – quase nunca aquelas que lucram com a ganância e a incúria. Quem morre são as pessoas exploradas pela ganância e pela incúria.
Não venham fingir que a ganância e a incúria são brasileiras. Não venham fingir que as tragédias evitáveis são naturais. Não culpem o clima. A ganância e a incúria são irmãs humanas. Estão em todos nós. Só variamos perante as populações a que somos indiferentes.
É humano, estupidamente humano, preocuparmo-nos mais com um bebé caído num poço do que com centenas de brasileiros desaparecidos.
É humano, estupidamente humano, preocuparmo-nos mais com brasileiros do que com outras nacionalidades das quais nos sentimos mais distantes, se é que sabemos que existem.
É humano, estupidamente humano, exigirmos castigos e pedirmos mais prevenção e mais respeito pela vida – e depois esquecermo-nos. Não suportamos que as coisas não fiquem resolvidas – mas não é por isso que ficam resolvidas.
A ganância e a incúria andam juntas porque quanto maior for a incúria mais lucra a ganância. É tudo uma questão de dinheiro. Quanto menos dinheiro eu gastar (com trabalhadores, com materiais, com segurança), mais fica para mim.
Quanto mais eu conseguir esquecer-me das outras pessoas, mais eu folgo em gozar os meus lucros.
Noam Chomsky riu-se quando alguém lhe falou em lucros. "Essa palavra é proibida, meu amigo. A expressão oficial é criação de postos de trabalho." Faça-se a substituição para descobrir a impostura.