Desrespeitar o hino chinês vai ser criminalizado em Hong Kong
Os apupos ao hino no início de jogos de futebol é uma forma de protesto político no território. A geração mais jovem sente-se frustrada com a cada vez maior influência chinesa.
As autoridades de Hong Kong apresentam uma proposta de lei, esta quarta-feira, que tem como objectivo tornar o desrespeito pelo hino nacional da China um crime punível com uma pena de até três anos de prisão, reforçando os receios de que a liberdade de expressão no território está a ser posta em causa.
As autoridades chinesas têm procurado incutir uma maior dose de patriotismo na antiga colónia britânica, numa altura de maior tensão entre os activistas que lutam por mais democracia e as forças leais a Pequim – alguns activistas defendem mesmo a independência.
Apupar o hino nacional chinês em jogos de futebol tem sido uma forma de protesto político nos últimos anos, aproveitada pelas gerações mais jovens para mostrarem a sua frustração com a cada vez maior influência da China.
Para além da pena de prisão, a medida prevê a aplicação de uma multa de até 50 mil dólares de Hong Kong (5600 euros) para quem desrespeitar o hino. E estende-se a todos os alunos das escolas, de todas as idades, incluindo os que frequentam escolas internacionais.
A professora Simon Hung, que dá aulas numa escola secundária, mostrou-se preocupada com a proposta. "Acho que os professores ficam preocupados, porque se permitimos que o Governo aprove esta lei para dizer aos professores o que eles têm de ensinar, da próxima vez pode ser sobre outro assunto qualquer."
A proposta de lei deverá ser aprovada, provavelmente nos próximos meses, porque a oposição não tem votos suficientes para se impor.
O regresso de Hong Kong à autoridade da China, em 1997, foi feito mediante a aplicação da fórmula "um país, dois sistemas", que prometia ao território – à semelhança do que aconteceu com Macau – uma maior autonomia e liberdade de expressão.
As autoridades de Hong Kong, leais a Pequim, já aprovaram a criminalização do desrespeito pela bandeira chinesa e outros símbolos nacionais. Este tipo de medidas tem contribuído para agitar a população mais jovem, que se mostra cada vez mais desagradada com a influência das autoridades chinesas.
"Não temos nenhuma sensação de pertencermos à China", disse à agência Reuters um adepto de futebol. "Até as pessoas que eu conheço que nasceram a partir de 1997 dizem que se sentem de Hong Kong, e não chineses."
A lei que criminaliza o desrespeito pelo hino foi aprovada na China em 2017 e uma proposta semelhante está a ser apreciada em Macau.