Rochas onde estava o T-rex Sue afinal ainda tinham fósseis de tubarão
Ficaram guardadas num armazém desde o início dos anos 90 e agora descobriu-se que essas rochas de onde se tinha removido o famoso fóssil de Sue ainda continham vestígios de um tubarão cretácico.
Cientistas do Museu Field de Chicago (Estados Unidos) ao examinar meticulosamente as duas toneladas de rochas que tinham sobrado da remoção dos ossos fossilizados de Sue, um exemplar famoso do Tyrannosaurus rex descoberto na década de 90, depararam-se com uma surpresa: dentes de tubarão.
Mas o gigantesco dinossauro carnívoro (com 12,3 metros de comprimento) não conheceu a sua morte num ataque de tubarão, como se tivesse havido uma mistura de monstros do Tubarão e do Parque Jurássico.
Os cientistas afirmaram, esta segunda-feira na revista Journal of Paleontology, que o T-rex encontrou a morte há 67 milhões de anos, no período Cretácico, ao cair num rio no agora Dakota do Sul. Este rio estava repleto de tubarões – embora de pequenas dimensões – que viviam em ambientes de água doce.
O esqueleto de Sue – o mais completo e mais bem preservado esqueleto de T-rex encontrado até agora – está exposto no Museu Field de Chicago. Este dinossauro com o nome da paleontóloga que o descobriu (Sue Hendrickson) foi encontrado em 1990 perto de Faith, no Dakota do Sul, Estados Unidos. O proprietário do terreno onde Sue foi encontrada ficou milionário depois de o esqueleto deste dinossauro ter sido vendido por 8,4 milhões de dólares (sete milhões de euros) ao Museu Field num leilão da Sotheby’s de Nova Iorque em 1997.
O museu manteve estes anos todos as rochas onde estavam incrustados os ossos do dinossauro – a chamada “matriz” – num armazém subterrâneo até que cientistas e voluntários decidiram tentar descobrir aí novos pequenos fósseis. Durante esta investigação, foram descobertos fósseis de outros animais vizinhos de Sue, incluindo uma espécie de tubarão a que foi agora dado o nome Galagadon nordquistae.
O Galagadon, que é próximo de tubarões hoje existentes pertencentes à ordem dos orectolobiformes e que vivem nos mares do Indo-Pacífico, media entre 30 e 60 centímetros de comprimento. Os seus dentes eram do tamanho de grãos de areia, com apenas um milímetro – dentes que não faziam frente a Sue, já que o Tyrannosaurus possuía dentes que chegavam aos 30 centímetros.
Se o Galagadon alguma vez interagiu com Sue, tal pode ter acontecido quando o dinossauro procurava o rio para beber água. “Não seria de todo uma surpresa para mim se um único T-rex assustasse um pequeno Galagadon, ao baixar a sua cabeça para beber água”, disse o paleontólogo da Universidade Estadual da Carolina do Norte (EUA), Terry Gates, o principal autor do artigo científico que descreve este tubarão novo para a ciência.
Os cientistas acreditam que este tubarão se assemelhava aos seus parentes mais próximos, pelo que era um habitante dos fundos marinhos cujo rosto achatado teria bigodes perto da boca, tal como o peixe-gato. Além de possuir um padrão camuflado, “deveria alimentar-se de pequenos invertebrados e provavelmente passaria a maioria do tempo deitado no leito do rio”, acrescentou o co-autor do artigo Pete Makovicky, paleontólogo e curador do museu, citado no comunicado do Museu Field.
“Os dentes possuem uma forma triangular atípica, com três pontos invulgares e uma grande placa na raiz. Alguns dos dentes tinham parecença estranha com a nave espacial do conhecido videojogo Galaga, que inspirou o nome do género”, disse Pete Makovicky. O comunicado adianta ainda que o resto do nome científico do tubarão é uma homenagem a Karen Nordquist, a voluntária do museu que descobriu os fosseis do animal.
“Eram tão pequenos [os dentes] que, se não fossem observados com muita atenção, passariam despercebidos”, contou Karen Nordquist no comunicado. A voluntária e antiga química explicou ainda que para uma observação mais detalhada dos dentes era necessário usar um microscópio.
Os cientistas ainda estão a estudar os fósseis de pelo menos mais duas espécies de tubarões que viviam no antigo rio onde Sue ficou depositada. De acordo com o artigo científico, no habitat do T-rex foram encontrados vestígios de peixes cartilagíneos – que incluem os tubarões, as raias e as quimeras – atribuídos às espécies Lonchidion selachos e Myledaphus pustulosus. Quase todos os tubarões vivem no mar, no entanto, há actualmente duas espécies de água doce que habitam permanentemente rios e lagos e algumas outras também se aventuram em ambientes de água doce.
“Duvido que o Galagadon tenha passado toda a sua vida em habitats de água doce”, afirmou Pete Makovicky, sugerindo que o antigo rio onde estavam os fósseis do tubarão estivesse ligado a um mar interior a 160 quilómetros de distância e que, naquela altura, dividia ao meio a América do Norte. A descoberta deste animal reinicia agora uma discussão sobre o habitat de Sue. Anteriormente pensava-se que o T-rex habitava perto de um lago – parte de um rio que secou –, mas agora “a presença deste tubarão sugere que tenha existido, pelo menos, uma conexão a ambientes marinhos”, acrescenta o curador do museu.
Para Karen Nordquist, este estudo também contribui para a valorização de fósseis de animais mais pequenos, que recebem menos atenção do que os dinossauros. “Quando obtivemos estes ossos [de pequenos animais] e os identificámos, ficámos com uma ideia mais completa do ambiente e de tudo o que viveu com os grandes dinossauros.”