Indústria de componentes aproveita melhor ano de sempre para pedir apoio ao crescimento
Exportações cresceram 6% em 2018, chegou aos 9400 milhões de euros, mas já começaram a abrandar. Sector precisa de respostas para custos de energia e de contexto.
A indústria de componentes para automóveis reúne-se nesta quarta-feira em Ílhavo, com uma folha de serviço recheada de méritos e uma grande pergunta: como é que um sector que registou um novo recorde de exportações em 2018 (cerca de 9400 milhões de euros em vendas ao exterior, uma melhoria na ordem dos 6% face a 2017), e que nesta década viu o volume de negócios aumentar mais de 60%, pode continuar a crescer de forma sustentada?
“Há mais de uma década que a indústria dos componentes tem vindo a crescer quer em vendas quer na exportação e a resposta a essa questão vai depender do que as empresas deste sector conseguirem fazer seja na inovação, seja a nível de tecnologia ou na capacidade de controlar de custos, acompanhando de resto a evolução que toda a indústria do sector automóvel está a viver”, afirma Adolfo Silva, da direcção da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), promotora deste encontro.
“Vai também depender do Governo e da resposta que este for capaz de dar no suporte ao investimento que é necessário continuar a fazer mas também no apoio que vier a dar em relação a factores externos, como os custos de energia e de contexto”, salienta o mesmo responsável.
Nesse sentido, do encontro sairão uma lista de conclusões que a AFIA tenciona entregar ao Governo, que se fará representar pelo secretário de Estado da Economia, João Correia Neves. E nessa lista, o sector vai reforçar o pedido para que o executivo dê andamento a uma série de iniciativas que são “essenciais” para a indústria, nomeadamente na formação de pessoas, no apoio ao investimento para transformação digital e no suporte à internacionalização das empresas portuguesas.
No acesso a fundos comunitários, a AFIA diz que as empresas têm apresentado candidaturas e “lamenta a demora no processo decisório” e o facto de o “nível de financiamento ser inferior ao necessário”. Por outro lado, salienta que “há vertentes importantes do negócio que não têm sido contemplados” para efeitos de apoio comunitário. Adolfo Silva dá como exemplo o caso de empresas que crescem no mesmo ramo pela aquisição de clientes. “Essas têm necessidade de aumentar a capacidade produtiva, mas não têm sido contempladas e há uma carência a esse nível”, destaca.
O contacto com o exterior, pelas exportações e pela captação de investimento estrangeiro, está aliás no topo das prioridades, até porque os bons resultados de 2018 não escondem uma realidade que já deveria preocupar todas as partes interessadas. É que o último trimestre de 2018 registou uma clara desaceleração nas vendas ao exterior. E segundo Adolfo Silva, o abrandamento “deve continuar nos primeiros meses de 2019, infelizmente”.
Se, em Agosto, a taxa de crescimento homólogo nas exportações estava nos 8%, em Novembro a taxa cifrava-se em 6,2% face a 2017, devendo ter terminado o ano de 2018 nos já referidos 6%, frisa este representante. Razões? “Os grandes construtores europeus têm cadências de fabrico mais lentas, o que se explica pela situação económica de que toda a gente fala”, refere Adolfo Silva, aludindo ao clima de abrandamento que paira sobre a economia mundial.
“Esta indústria é uma espécie de boletim meteorológico de toda a economia. É aqui que os primeiros sinais de viragem se fazem sentir. Foi assim nos anos de 2011/2012, quando as vendas deram um salto e toda a gente continuava a falar em crise, tal como agora, em que já estamos a sentir a desaceleração económica antes de toda a gente”, argumenta.
Notícia actualizada às 11h30, para corrigir os dados de exportações revelados pela AFIA.