Rihanna vai lançar marca com a LVMH: um ponto de viragem no sector do luxo?

A marca deverá incluir pronto-a-vestir, marroquinaria e acessórios e poderá ser lançada em conjunto com o próximo álbum da cantora.

Foto
REUTERS/Gonzalo Fuentes

Já passaram mais de 30 anos. Desde 1987 que a LVMH não cria uma marca de raiz, como aconteceu com a Christian Lacroix. Ao que tudo indica, Rihanna será a próxima aposta do conglomerado de luxo francês.

Segundo o site Women’s Wear Daily (WWD), várias fontes dentro do grupo confirmam que a LVMH e a cantora têm estado em negociações para lançar uma marca de luxo epónima – que deverá incluir pronto-a-vestir, marroquinaria e acessórios e poderá ser lançada em simultâneo com o seu próximo álbum, o nono, à partida ainda este ano.

Nenhuma das partes confirmou oficialmente. Mas ainda no início da semana a cantora foi fotografada em Nova Iorque com uns óculos de sol com o logótipo Fenty — o seu apelido, que tem registado como marca —, deixando os fãs a especular sobre o que aí vem.

Foto
Na gala do Met, em Nova Iorque, em Maio de 2018 REUTERS/Eduardo Munoz

A concretizar-se este negócio, será um ponto de viragem para o sector do luxo e para a indústria da moda. Primeiro porque mostra a LVMH a aventurar-se além das chamadas heritage brands (ou seja, marcas com tradição europeia) – além da Louis Vuitton e Moët Hennessy, que lhe dão a sigla, o conglomerado tem no seu portefólio marcas como a Givenchy, Christian Dior e Bulgari. Depois, como aponta o New York Times, porque “a combinação da Fenty e da LVMH será a mais clara expressão até agora de como as celebridades, redes sociais e influencers redefiniram o equilíbrio de poder entre cultura e consumo, mudando a forma como as marcas de todo o tipo se relacionam com o seu público”.

Rihanna será também a primeira designer feminina negra à frente de uma marca daquele que é considerado por muitos o maior conglomerado de moda a nível mundial. Contudo, não é a única dentro do sector do luxo a dar sinais de mudança, em Setembro, a Semana da Moda de Milão terminou com o anúncio de que a americana Michael Kors ia comprar a Versace, consolidando a posição da Capri Holdings como um “grupo de moda de luxo global”.

De ícone a designer de moda

Dias após ter pisado a passadeira vermelha do Met Gala vestida numa espécie de versão feminina do Papa, em Maio de 2018, Rihanna lançava a sua colecção de lingerie — suscitando um frenesim entre os fãs que tentavam assegurar uma senha de acesso à loja online. Na última Semana de Moda de Nova Iorque, o desfile da Fenty X Savage foi um dos momentos de maior destaque, elogiado pelos insiders da indústria e aclamado pelo público em geral, que aplaudiu a escolha de um grupo heteroéneo de modelos, incluindo grávidas. 

O sucesso desta última aventura de Rihanna pelo mundo da moda demonstra a sua evolução de ícone desta indústria a força criativa e empresária de sucesso. Em 2014 recebeu o prestigiado prémio de ícone de moda da Council of Fashion Designers of America (CFDA).

Uma dos primeiros contactos da cantora com o design foi em 2011. Depois de participar em campanhas para a Armani Jeans e Emporio Armani Underwear, colaborou com a marca para uma linha de T-shirts, roupa interior e ganga. Em 2013 criou uma colecção cápsula para a marca britânica de fast fashion River Island. Três anos depois foi anunciada como a nova directora criativa da Puma, assinando sucessivas colecções da marca desportiva alemã, sob o nome Fenty Puma by Rihanna. A reedição dos icónicos Puma Basket — que ganharam popularidade nos campos de basquetebol da década de 1970 — com um enorme e distintivo laço foi desde logo um dos maiores sucessos desta colaboração. Mas também no pronto-a-vestir, Rihanna foi conquistando o mundo da moda, apresentando colecções fortes.

Foto
No desfile da Fenty X Savage a modelo de 22 anos Slick Woods desfilou grávida em lingerie. REUTERS/Jeenah Moon

Em Setembro de 2017 lançou a sua marca de maquilhagem, Fenty Beauty, com um sucesso inicial estrondoso. Mais uma vez, mostrou capacidade de dar resposta àquilo que o mercado procura, tanto a nível de produtos — com uma enorme gama de tons de pele disponíveis (40 ao todo) —, como a nível de comunicação, mostrando diversidade e inclusão através das imagens das modelos utilizadas no site e nas redes sociais. Houve inclusive relatos de clientes emocionadas por terem encontrado, pela primeira vez, uma base que correspondia ao seu tom de pele, já que muitas das grandes marcas focavam as suas gamas em tons mais claros. Nos primeiros 40 dias, a facturação atingiu os cem milhões de dólares e a marca ganhou um lugar na lista das 25 melhores invenções de 2017 da revista Time

A marca foi criada em parceria com a Kendo, uma divisão do grupo LVMH e a mesma por detrás da marca de beleza da conhecida tatuadora Kat Von D. Mas a ligação de Rihanna ao grupo de luxo já vinha de trás. Após ter participado numa campanha com a Christian Dior, colaborou com a marca numa pequena colecção de óculos de sol.

O uso das redes sociais é uma parte importante do sucesso da cantora. Parece mais um diálogo entre a marca (ou Rihanna) e os fãs, do que um canal de distribuição de marketing. Uma grande parte do conteúdo publicado pela Fenty Beauty e Fenty X Savage é produzido por influencers e consumidores e depois partilhado pela marca, numa óptica de celebrar a diversidade, que se reflecte nos seus seguidores, e de reforçar os valores da marca.

Rihanna “parece compreender como as diferentes plataformas e formas de expressão criativa podem complementar-se ue não mostra sinais de abandonar qualquer uma”, aponta o New York Times.

Sugerir correcção
Comentar