Armando Vara: mais um “inocente” preso
Se se abrisse em Portugal uma prisão para condenados que se dizem inocentes, provavelmente seria o maior estabelecimento prisional do país. Nele entraria nesta quarta-feira Armando Vara.
O homem que nasceu em Lagarelhos, concelho de Vinhais, distrito de Bragança, numa família humilde e veio fazer política para Lisboa entrou esta quarta-feira na cadeia de Évora como um homem financeiramente abastado e dizendo-se “inocente”. Depois de condenado a cumprir uma pena de prisão efectiva por três crimes de tráfico de influência e de ter esgotado todos os recursos na justiça apresentou-se na prisão manifestando mesmo "uma certa indignação".
Depois de uma vida na política e nos negócios nada inocente ao longo de muitos anos, Vara e alguns dos seus familiares serão provavelmente os poucos portugueses a acharem que os juízes se enganaram e mandaram para trás das grades um inocente.
A vida de Vara é hoje um livro aberto. Sempre foi um homem da baixa política, um “sim chefe” e assim subiu na vida sem qualquer mérito; envolveu-se em negócios suspeitos e há dúvidas sobre a verdade de alguns cursos que frequentou. É suspeito de fazer parte de um conluio para tentar controlar e silenciar órgãos de comunicação social. O jovem bancário no balcão de Mogadouro da Caixa Geral de Depósitos acabou administrador deste mesmo banco, um cargo para o qual não tinha qualquer currículo, numa nomeação que deixou os portugueses de boca aberta e preocupados – e com razão, porque também aqui é suspeito de negócios pouco claros.
O PÚBLICO recordou há dois dias uma frase que Vara escreveu no princípio dos anos no jornal Voz do Nordeste, quando ainda era um político local e que hoje importa voltar a lembrar. “O negocismo instalado, a noção de proveito pessoal que alguns têm da política tem a ver com a ausência de ideologia que em nome de uma prática de duvidosa moralidade parece começar a fazer escola.”
Aqui sim, nesta “escola” Vara fez os cursos todos e com notas muito elevadas.