Uma solução para o imbróglio do "Brexit"?
May não pode propor um volte face em relação ao "Brexit" mas pode ser “forçada” a fazê-lo pelo Partido Liberal-Democrata.
O artigo que se segue é um exercício meramente especulativo. Imaginemos o seguinte. O Partido Liberal-Democrata propõe a realização de umas eleições antecipadas no parlamento britânico e oferece-se para formar uma coligação eleitoral com o Partido Conservador. A condição sine qua non desta aliança: defender a permanência do Reino Unido na União Europeia. Solução impossível? Talvez não. Consideremos o seguinte. Corbyn e May terão de recuar. Resta saber como e porquê. A maioria dos trabalhistas é hoje a favor da permanência, ao contrário do seu líder, que optou pela “ambiguidade construtiva”, ou seja, pelo oportunismo. A ambivalência calculada de Corbyn tem tanto a ver com questões ideológicas - a sua oposição feroz a uma UE supostamente neoliberal - como com o resultado inesperado do referendo. Não foram poucos os trabalhistas que apoiaram o UKIP. Jornais como o New Statesmen e o The Guardian seguiram atentamente a migração algo bizarra de eleitores trabalhistas para o campo dos brexiteers. Corbyn recuperou-os mas teve de ambiguar a sua posição e re-centrar o seu discurso nas preocupações sociais tradicionalmente trabalhistas, assim defletindo a espinhosa questão do "Brexit". Se Corbyn persistir na sua ambiguidade, se escolher continuar a ignorar a maioria dos trabalhistas que hoje defendem a permanência, é muito provável que seja deposto pelos seus correligionários.
May também terá de recuar. Todas as sondagens demonstram que a maioria dos britânicos, nos quais se incluem muitos conservadores desiludidos com o caos vigente, são hoje a favor da permanência do Reino Unido na UE. May não pode propor um volte face em relação ao "Brexit" mas pode ser “forçada” a fazê-lo pelo Partido Liberal-Democrata. Se for ela a propor a permanência do Reino Unido na UE, será certamente acusada de ter pervertido os seus princípios e de trair a vontade do povo britânico. Seria politicamente menos oneroso para ela ceder às exigências do Partido Liberal-Democrata numa situação de crise profunda, usando o caos actual e a possibilidade de uma vitória eleitoral para suavizar o ónus político de mudança de rumo no Partido Conservador. É possível que o numero de eurocépticos do Partido Conservador ainda seja suficiente para negar a May uma vitória eleitoral ou até para destitui-la mas, dada a situação actual, não se vislumbram quaisquer alternativas menos onerosas. Todavia, convém não esquecer que são muitos os jovens britânicos que não votaram no último referendo que são fervorosamente a favor da permanência e contra Jeremy Corbyn. Umas novas eleições seriam uma oportunidade excelente para o Partido Conservador e o Partido Liberal expandirem os seus eleitorados. May terá de “do a Winston”, isto é, terá de optar pela criatividade política e pela mais resoluta tenacidade. Terá de ser audaz e inteligente. Terá de clarificar as águas conspurcadas da política britânica.