Missão improvável: um PSD à beira da autodestruição

Felizmente que ainda conheço neste PSD moribundo gente que está mais preocupada com o país do que com a sua condição pessoa. Não fossem alguns exemplos que por aí vamos conhecendo e nos habituámos a respeitar a nível local, longe destas lutas mediáticas fratricidas, e a desgraça seria ainda maior.

Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar. O ano que há dias findou foi politicamente enriquecedor, mas partidariamente revelador da crise que a direita portuguesa atravessa. O maior partido da oposição virou um ano inteiro fechado sobre si mesmo, entre a caça às bruxas e os arrufos entre facções, entre cisões e debandadas e golpes palacianos, entre lutas fratricidas e boicotes internos permanentes. Todos vemos, todos ouvimos e todos lemos... não podemos, portanto, ignorar. 

O PSD está em crise profunda, agonizante e, pior, já nem sabe o que defende.

Pelo menos a ver pelos mais recentes acontecimentos. Depois de um final de 2017 em que o PSD se viu a braços com uma das maiores divisões internas no combate pela conquista da sua liderança entre dois históricos militantes, cada um chamando a si a responsabilidade de refundar o PSD, diziam uns, recentrar, diziam outros, clarificar, pediam todos, o país assistiu à eleição de Rui Rio, a que se seguiu um congresso de aclamação que encenava uma aparente união em que ninguém nunca acreditou, como era evidente.

Entre o início da sucessão a Passos Coelho e a confirmação da nova liderança o país perdeu meio ano, ou ganhou, porque o Governo não abrandou o ritmo do tanto que havia a fazer para recuperar o país. Escolhido o novo líder, definida a nova equipa, todos esperávamos voltar à normalidade democrática, com uma oposição focada nos assuntos do país, mais do que em si própria. Mas nada disto aconteceu. De uma forma inédita, como nunca antes se havia visto, o PSD cava cada vez mais fundo o fosso entre duas grandes facções: os apoiantes de Rui Rio e uma oposição persistente, evidente, com todos os protagonistas bem identificados. E nós a vermos.

Mas a maior bomba estaria para vir. Num Verão quente em que tudo fazia prever que o país teria uma rentrée a anteceder um ano de combate eleitoral em várias frentes, Pedro Santana Lopes terminava com o teatro de sombras e batia definitivamente a porta. 

Saía com estrondo para fundar um novo partido, deixou de confrontar Rui Rio verbalmente, mas toda a sua acção revelaria a intenção. Uma liderança que teimava em não ganhar o partido estava agora mais perto de perder o país.

Foi um final de ano triste para o PSD, que se via dia após dia sacudido entre anúncios de desfiliação, ameaças de expulsão e de processos-crime, e o nascimento de movimentos, partidos e plataformas à sua direita. 

O partido passou então a discutir a sua matriz ideológica, imagine-se. Somos de direita, somos de esquerda, somos de centro-esquerda, não somos de direita, não somos liberais... Sá Carneiro teria dado um bom murro na mesa! Afinal, o PSD não sabe o que pensa e o que defende? Enchem o peito para citar o seu fundador, e usam as expressões do seu pensamento para defender uma coisa e o seu contrário? Quo vadis, PSD?

Os seus maiores adversários políticos jamais imaginaram pedir ao ritmo das 12 badaladas e das 12 passas os desejos do que nos bastidores do próprio PSD se preparava. E nem uma semana tinha o novo ano, o ano de combate eleitoral intenso, e toda a extensão dos cacos de um partido de charneira se expunha a um país ainda mal desperto do natural sentimentalismo próprio da época festiva. 

Reuniões secretas para arregimentar tropas para destituir o líder (anunciadas ao país inteiro), ameaças de recolha de assinaturas para provocar eleições internas, e pré-anúncios, anúncios e anúncios de anúncios de candidaturas à liderança. Só não viu quem não quis. Há meses que um conjunto muito bem identificado de protagonistas se desdobrava em entrevistas e mais entrevistas a posicionarem-se para o momento em que algum abutre retalhasse as carnes já esfrangalhadas da vítima.

E eles aí estão, engalfinhados em busca de algum resto de que ainda possam apoderar-se, sem qualquer respeito pelos cidadãos que sempre entenderam que esse era o partido que melhor defendia os seus ideais, entre duelos e golpes palacianos que destroem à vista de todos um partido fundador da nossa democracia.

Felizmente que ainda conheço neste PSD moribundo gente que está mais preocupada com o país do que com a sua condição pessoal, com os seus concidadãos do que com os seus correligionários, com a sua comunidade do que com a sua posição no partido ou cargos vindouros. Não fossem alguns exemplos que por aí vamos conhecendo e nos habituámos a respeitar a nível local, longe destas lutas mediáticas fratricidas, e a desgraça seria ainda maior.

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