O ser humano percebeu desde cedo como as cores influenciam a sua forma de ser, percepcionar e estar no mundo. As cores apelam a sentimentos, sensações, emoções e muitas vezes a juízos de valor pintados com preconceitos. Afinal existe algo de profundamente errado naquela pessoa que se veste diariamente de preto ou com tons escuros. Estará de luto ou amargurada? Viverá numa ressaca permanente de tal forma que a sua versão nocturna nunca vislumbra a luz do dia?
Quando a chave que abre os portões do mundo da cor não funciona como deveria, a vida tem que se adaptar. Quantos não viram sonhos barrados — como, por exemplo, a entrada na força aérea — por causa de uns meros cones nas retinas humanas que, na presença de anomalias, causam aquilo que conhecemos como daltonismo?
Melhor do que ninguém, os designers perceberam como a cor é preponderante na relação do ser humano com o meio que o rodeia. A cromoterapia é uma das armas que utilizam para nos seduzir com a criação de produtos que queremos consumir sem que saibamos o motivo.
O feitiço da cor acontece e, de um momento para o outro, não vivemos sem uma peça coral no nosso armário. A mesma peça que nos entrou pelos olhos através daquela pessoa estranha que vimos no seio da multidão e que não esquecemos. Ao mesmo tempo que isto acontece, os manequins das lojas vestem-se de peças 16-1546 living coral e percebemos, de repente, que já estamos em 2019 porque tudo se pinta da cor escolhida pela Pantone.
Mesmo que nos recusássemos a vestir esta cor, vamos vê-la na decoração dos cafés, nas ruas e teremos sempre aquele amigo mais sensível a modas e vaidades que nos falará da cor da moda.
Há 19 anos que a Pantone marca tendências com resultados magníficos na moda e na decoração, definindo uma cor actualmente. O ano 2018 foi marcado pelo ultravioleta que nos entrou pelos olhos em inúmeras manifestações que marcaram aquela que foi — e é — a "Terceira Revolução Feminista", dando-lhe força através da cor. E apesar de este não ter sido um objectivo da Pantone.
Com living coral, a Pantone procura "simbolizar a necessidade inata do ser humano de optimismo e busca de alegria", definiu a directora executiva, Leatrice Eiseman. Por outro lado, através desta vivacidade, a Pantone procura humanizar-nos, libertando-nos do buraco negro desumano em que mergulhámos com a crescente presença de tecnologia e redes sociais.
Infelizmente, não creio que a cor — ou até um conjunto delas — seja suficiente para desviar o olho humano de uma vida digital na qual cada um se pinta ilusoriamente como gostaria de ser, ou seja, com a cor ou as cores que quer.