O que vai na cabeça de Zuckerberg? Novas pistas sobre o modus operandi do Facebook

Os documentos mostram como a rede social sempre encarou os dados dos utilizadores como um negócio.

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Os documentos incluem emails enviados entre 2012 e 2015 Reuters/Charles Platiau

Esta semana, 250 páginas de documentos internos do Facebook – que incluem emails confidenciais entre Mark Zuckerberg e a equipa da rede social sobre o futuro da plataforma – chegaram à Internet via Parlamento britânico. Foram publicados no âmbito de uma investigação mais alargada sobre as más práticas da rede social.

Apesar de o Facebook se defender, ao dizer que o conteúdo é antigo (refere-se ao período entre 2012 e 2015), os documentos mostram como a rede social sempre encarou os dados dos utilizadores como um negócio.

“Cobrimos uma percentagem da receita directamente aos programadores?”, questionou Zuckerberg num email de 2012, a Sam Lessin, então vice-presidente de produto do Facebook. Referia-se aos criadores das aplicações – fora do Facebook – que permitem que pessoas se registem com o perfil da rede social. A forma de usar os dados, e com quem os partilhar, é recorrente. "Queremos que as pessoas possam partilhar tudo aquilo que querem, e que o façam no Facebook", explicou Zuckerberg, noutro email. “E no futuro, acho que devíamos desenvolver um serviço premium para coisas como personalização instantânea." O fundador ambicionava um serviço em que as aplicações pudessem usar os dados do Facebook e, em troca, a rede social tivesse também acesso a informação dos utilizadores nelas geradas.

Na altura, já se discutia bloquear determinados elementos do site, como emails e amigos dos utilizadores, a algumas aplicações. Muitas vezes, a privacidade ficava em segundo lugar. “Estou céptico que exista um risco estratégico de perda de dados tão grande como pensas”, escreveu Zuckerberg sobre as preocupações de Lessin. Até 2014, os programadores de aplicações em que as pessoas podiam entrar com a conta do Facebook, tinham acesso aos dados dos amigos destes utilizadores (mesmo que esses amigos não usassem as aplicações). Foi isto que, mais tarde, levou a problemas como o escândalo com a consultora Cambridge Analytica.

Apesar do interesse nos dados de outras aplicações, quando o Twitter lançou o Vine (uma plataforma de micro vídeos), Zuckerberg decidiu logo remover o site da interface de aplicações do Facebook. O objectivo era evitar que os utilizadores do Twitter pudessem usar o Facebook para encontrar amigos na nova plataforma. A lógica faz parte da estratégia que permitiu à empresa chegar aos 2,3 mil milhões de utilizadores mensais.

Num texto sobre os documentos publicados esta semana, Mark Zuckerberg, defende as conversas. “Como qualquer empresa, temos muitas discussões internas”, escreveu. Admite que se considerou “cobrar aos programadores pelo uso da plataforma” – e frisa que é algo que acontece em alguns serviços do Google e da Amazon – mas diz que é “diferente de vender os dados das pessoas” e que “nunca venderam dados de ninguém”.

Numa nota menos defensiva, diz que percebe o escrutínio: “É saudável dado que um grande número de pessoas usa os nossos serviços em todo o mundo." Apesar dos escândalos dos últimos anos, o número de utilizadores diários do Facebook continua a crescer (embora a um ritmo muito menos acelerado).

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