Marcelo e Xi querem aprofundar a relação política entre Portugal e a China

As relações entre os dois países “estão no melhor período da História”, afirmou o líder chinês, na sua primeira visita oficial a Portugal. Marcelo admitiu diferenças entre os dois países, mas encontrou áreas de convergência.

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Xi Jinping foi recebido por Marcelo Rebelo de Sousa em Belém Nuno Ferreira Santos

O arranque da primeira visita oficial do Presidente chinês, Xi Jinping, iniciada esta terça-feira com um encontro com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ficou marcado pela intenção declarada de aprofundar as relações políticas entre os dois países. Marcelo aceitou o convite do homólogo chinês e irá retribuir a visita em Abril do próximo ano.

“Há cada vez mais pontes de convergência” entre Portugal e a China, afirmou Xi, numa curta declaração aos jornalistas no Palácio de Belém, sem direito a perguntas, depois de um encontro de uma hora com Marcelo. O Presidente chinês manifestou a intenção de “manter o contacto de alto nível, governamental, entre assembleias e partidos”.

Os laços políticos têm também uma dimensão internacional. Referindo-se a Portugal como “um membro importante da União Europeia”, Xi disse que pretende “aprofundar a parceria estratégia entre a China e a UE”. “Vamos reforçar a colaboração nas organizações internacionais, tais como a ONU, para salvaguardar o multilateralismo e o comércio livre”, acrescentou ainda o Presidente chinês.

Marcelo Rebelo de Sousa deu sinais que vão no mesmo sentido e desejou um “diálogo político regular e contínuo”. O Presidente português não deixou de referir que os dois países têm “instituições e aliados diferentes”, mas elencou as dimensões onde Portugal e a China podem estabelecer pontes.

“Isso não nos impede de trabalharmos em conjunto para a valorização do papel do direito internacional, da Organização das Nações Unidas, nem de defender o multilateralismo, os direitos humanos, a resolução pacífica dos conflitos nem de apoiarmos o livre comércio e as pontes de entendimento entre Estados e povos, atentos ao ambiente e às alterações climáticas”, afirmou Marcelo.

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Miguel Manso

Depois de décadas de crescimento contínuo que transformaram a China numa potência económica, os líderes chineses apostam agora num aumento da sua influência global que espelhe a sua posição na economia mundial. Perante uma Administração norte-americana assumidamente isolacionista, Pequim tem feito uma defesa do multilateralismo e do comércio livre. Porém, o apoio chinês ao respeito pelas normas e pelo direito internacional esbarra com alguns aspectos da sua conduta, dos quais é exemplo a ocupação militar de rochedos e recifes no Mar do Sul da China, um território reivindicado por vários dos seus vizinhos.

Outra das áreas que mais preocupam Pequim é o ambiente e, mais especificamente, a luta contra as alterações climáticas. A rápida industrialização da China deixou índices de poluição atmosférica preocupantes nas principais metrópoles do país e hoje o Governo de Xi Jinping tem como uma das suas prioridades o cumprimento das metas do Acordo de Paris, assinado em 2015 – a Administração de Donald Trump vai em sentido contrário e abandonou o tratado.

Portugal na rota da seda

Os laços entre a China e Portugal são, neste momento, essencialmente económicos. Desde a crise financeira europeia, os investimentos chineses em Portugal ascenderam aos nove mil milhões de euros e essa dimensão das relações entre os dois países terá continuidade. "Devemos fazer crescer e aperfeiçoar os projectos existentes, ampliar as trocas comerciais e criar mais pontos de crescimento", afirmou Xi. Marcelo disse, por sua vez, que “a cooperação económica e financeira é forte” e manifestou o desejo de que seja “sustentada no futuro”.

Um dos pontos fortes desta relação será a inclusão de Portugal na “Belt and Road Initiative”, a ligação da China à Europa seguindo os moldes da antiga rota da seda e que é concretizada por centenas de projectos de investimento chinês e parcerias económicas em dezenas de países em todo o mundo. Para além de uma dimensão terrestre que atravessa o continente euroasiático, a visão chinesa de expansão económica – desde o último Congresso do Partido Comunista, inscrita até na Constituição – inclui também uma rota marítima que pretende ligar o Oceano Pacífico ao Atlântico.

Os dois chefes de Estado assinaram um “memorando de entendimento” que estabelece a participação portuguesa neste projecto. Ainda não se sabe em que termos será desenvolvida esta cooperação, mas é conhecido o interesse chinês pela concessão do novo terminal no porto de Sines.

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Miguel Manso

Ao contrário do que fizeram outros países da Europa de Leste, que fazem parte integral da BRI, Portugal, tal como Espanha, fechou apenas um acordo de cooperação e não de integração. Para marcar o apoio de Lisboa ao projecto, Marcelo revelou ter aceitado o convite feito por Xi para participar na segunda edição do Fórum da BRI, em Abril do próximo ano, a que se juntará uma visita de Estado.

Os dois países pretendem ainda reforçar as relações culturais. Os dois líderes referiram os 40 anos assinalados em 2019 do restabelecimento das relações diplomáticas. Xi disse ainda que irá “acelerar a construção de um centro de cultura chinesa em Lisboa” e que o trabalho dos Centros Confúcio em Portugal também será reforçado.

As expectativas para o futuro das relações bilaterais são elevadas e foi o próprio Xi Jinping quem declarou que “a relação entre Portugal e a China está entrar no seu melhor período da História”. Marcelo terminou a sua intervenção com um pedido: “Sinta-se em casa, senhor Presidente Xi Jinping, tal como nós nos sentimos em casa na China há 500 anos.”

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